Nota Técnica – A retomada do crescimento da economia brasileira ou mais um “voo de galinha”?

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE divulgou recentemente que o Produto Interno Brasileiro – PIB do 2º trimestre de 2023 chegou a R$ 2,651 trilhões, resultando em um crescimento de 0,9% em relação ao trimestre anterior e de 3,4% em comparação ao mesmo período de 2022, superando consideravelmente as expectativas de mercado (Tabela 1).

Na ótica da oferta, R$ 2,315 trilhões foram referentes ao Valor Adicionado (VA), sendo R$ 541,4 bilhões da Indústria, R$ 1,6 trilhões dos Serviços, R$ 214,0 bilhões da Agropecuária e R$ 335,7 bilhões relacionados aos Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios, ou seja, mais de metade do PIB brasileiro foi gerado por atividades relacionas ao comércio de mercadorias e a prestação de serviços, que são as que mais geram empregos no país.

Tabela 1 – Crescimento % do PIB, por período, segundo segmentos econômicos – Brasil – 2º trimestre de 2023

IndicadoresCrescimento % do PIB do 2º trimestre de 2023 em relação ao
1º trimestre de 20232º trimestre de 2022
Total0,93,4
Indústria0,91,5
Serviços0,62,3
Agropecuária-0,917,0
Consumo das Famílias0,93,0
Consumo do Governo0,72,9
Formação Bruta de Capital Fixo – FBCF0,1-2,6
      Fonte: IBGE

Na ótica da oferta, R$ 2,315 trilhões foram referentes ao Valor Adicionado (VA), sendo R$ 541,4 bilhões da Indústria, R$ 1,6 trilhões dos Serviços, R$ 214,0 bilhões da Agropecuária e R$ 335,7 bilhões relacionados aos Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios, ou seja, mais de metade do PIB brasileiro foi gerado por atividades relacionas ao comércio de mercadorias e a prestação de serviços, que são as que mais geram empregos no país.

Na ótica da demanda, R$ 1,7 trilhões foram gerados pelo do Consumo das Famílias e R$ 472,2 bilhões pelo Consumo do Governo. Outros R$ 457,0 bilhões foram gerados via Formação Bruta de Capital Fixo – FBCF, R$ 85,5 bilhões resultante do Saldo da Balança Comercial e de uma redução de R$ 18,4 bilhões de relativos à Variação de Estoque, ou seja, quase três quartos (64,1%) do PIB brasileiro está diretamente relacionado ao poder de compra da sua população, o que mantém válida a tese que defende a importância do mercado interno para a economia brasileira.

Em comparação ao primeiro trimestre de 2023, em termos setoriais, o crescimento mais expressivo do PIB foi das atividades Industriais (0,9%), com destaque para o das Indústrias Extrativas (1,8%), da Construção Civil (0,7%), das Atividades de Eletricidade e Gás, Água, Esgoto e de Gestão de Resíduos (0,4%) e de Transformação (0,3%).

As atividades de Prestação de Serviços e de Comércio de Mercadorias também apresentaram crescimento (0,6%) do seu PIB neste período, destacando-se aquelas relativas as Atividades Financeiras, de Seguros e Serviços Relacionados (1,3%), Outras Atividades de Serviços (1,3%), Transporte, Armazenagem e Correio (0,9%), Informação e Comunicação (0,7%), Atividades Imobiliárias (0,5%), Administração, Defesa, Saúde e Educação Públicas e Seguridade Social (0,4%) e Comércio de Mercadorias (0,1%).

As atividades Agropecuárias apresentaram um recuo de (-0,9%) do seu PIB neste período o que normalmente ocorre neste trimestre e nos seguintes. Em relação a Balança Comercial brasileira, no período as Exportações de Bens e Serviços aumentaram 2,9% e as Importações de Bens e Serviços subiram 4,5%.

Na comparação com o segundo trimestre de 2022, observou-se um crescimento do PIB brasileiro das atividades Agropecuárias (17,0%), basicamente em decorrência do desempenho de alguns produtos da lavoura como a soja, o milho, o algodão e o café, seguido dos Serviços (2,3%) e das Atividades Industriais (1,5%).

No setor externo, por um lado, as exportações brasileiras de Bens e Serviços avançaram 12,1%, principalmente de produtos agropecuários, extrativa mineral e de produtos alimentícios e, por outro, a expansão das Importações de Bens e Serviços foi de 2,1%, basicamente devido às compras de máquinas e equipamentos, extração de petróleo e gás, máquinas e aparelhos elétricos.

Pelo lado da demanda também se observou um considerável crescimento do PIB resultante basicamente do desempenho do Consumo das Famílias (3,0%) e do Consumo do Governo (2,9%). Neste período destaca-se também o crescimento das exportações (12,1%) brasileiras, em menores proporções o das importações (2,1%).

Os determinantes deste crescimento do PIB brasileiro no segundo trimestre de 2023 se associam ao desempenho e a evolução de um conjunto de varáveis observadas tanto de cunho interno quanto externo à economia brasileira.  O governo brasileiro, ao que parece, procura enfrentar a crise que herdou do governo Bolsonaro, com medidas que interagem entre si, com efeitos de curto, médio e longo prazo.

A questão aqui reside na dúvida se este movimento do PIB reflete os primeiros passos da governança ou se trata de apenas mais um “voo de galinha”. Assim entendido, o termo que descreve uma situação em que a economia de um país experimenta um breve período de crescimento ou recuperação, seguido por uma queda abrupta ou declínio. Essa expressão sugere que o crescimento é temporário e insustentável, semelhante ao curto “voo de uma galinha”. Como uma das referências desta dúvida, tem-se o reduzido crescimento de 0,1% da FBCF em relação ao primeiro trimestre de 2023 e o seu recuo mais significativo de -2,6% em comparação ao segundo trimestre de 2022. Ressalte-se que FBCF retrata a ampliação da capacidade produtiva da economia por meio de investimentos correntes em ativos fixos.

Paralelamente deve-se ressaltar que, após a sua eleição, mas antes mesmo de assumir a Presidência da República, em dezembro de 2022, o governo Lula conseguiu aprovar no Congresso Nacional, a chamada PEC da Transição (PEC 32/22), que possibilitava ao novo governo, ampliar em R$ 145 bilhões o teto de gastos vigente, possibilitando assegurar despesas com importantes políticas públicas a serem adotadas na sequência de 2023, como as vinculadas ao Bolsa Família, ao Auxílio Gás e ao da Farmácia Popular.

O Bolsa Família, recentemente implementado, repassa mensalmente R$ 600,00 por família que se insere nos critérios do Programa, acrescidos de R$ 150,00 por criança de até seis anos de idade. O Auxílio Gás procura atender famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal (CadÚnico), com renda familiar mensal per capita menor ou igual a meio salário mínimo. O Programa Farmácia Popular no Brasil – PFPB, a partir de 2023, procura disponibilizar medicamentos gratuitos utilizados na Atenção Primária à Saúde – APS.

Outro aspecto relevante, em que pese a política monetária contracionista adotada pelo Banco Central, observou-se queda na inflação brasileira, se inserindo na meta de 3,25% no ano de 2023 com tolerância de 1,5%. Segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA a inflação acumulada em 12 meses em julho de 2023 chegou à casa de 3,99%, contribuindo para um aumento do poder de compra da população brasileira.

Neste contexto, o mercado de trabalho brasileiro também reagiu de forma positiva no segundo trimestre de 2023. O total de pessoas ocupadas chegou a 98,9 milhões de pessoas, cerca de 1 milhão de pessoas a mais em relação ao primeiro trimestre de 2023, e de 641 mil pessoas em relação ao mesmo trimestre de 2022. Nestes mesmos períodos, respectivamente, o número de pessoas desocupadas reduziu em 785 mil pessoas e 1,4 milhão de pessoas. A taxa de desocupação caiu para a 8,7% frente aos 8,8% e 9,3%. Seguindo a mesma tendência o número de pessoas desalentadas (aquelas que gostariam de trabalhar, porém não procuraram emprego por achar que não encontrariam) reduziu em cerca de 199 mil pessoas e 593 mil pessoas nestes trimestres.

A massa salarial brasileira (somatória de todos os rendimentos das pessoas ocupadas) de R$ 285,4 bilhões observada no segundo trimestre de 2023, em que pese ter diminuído em relação ao primeiro trimestre deste mesmo ano, foi superior em R$ 11,4 bilhões (a preços de junho de 2023) em relação ao observado no segundo bimestre de 2022.

Tal crescimento, acoplado ao desempenho favorável do conjunto dos demais indicadores observados na socioeconomia brasileira, de forma ampla, sugerem uma melhora do poder aquisitivo da população brasileira neste segundo trimestre de 2023. Apesar destes indicadores favoráveis, ainda são inúmeras as dificuldades a serem enfrentadas pelo atual governo e a sociedade brasileira.

Exemplo neste sentido, por um lado, é o número de famílias brasileiras endividadas. Embora, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor – PEIC –, elaborada pela Federação Nacional do Comércio, tenha reduzido de 72,8% em junho de 2023 para 70,7% em julho, o número absoluto de famílias endividadas ainda era de cerca de 2,9 milhões de famílias, das quais, 24,1% tinham contas em atraso e 9,9% não tinham condições de pagar suas dívidas. Por outro lado, a taxa de investimentos da economia brasileira no segundo trimestre de 2023 foi de 17,2% do PIB, situando-se abaixo dos 18,3% da verificada no mesmo trimestre de 2022.

Apesar destas dificuldades, o ambiente relativamente favorável gerado pelos indicadores socioeconômicos brasileiros observados neste período mais recente, acrescido pelas ações concretas e pelas amplas discussões e articulações políticas realizadas pelo atual governo, pode-se esperar a continuidade “dos ventos que pairam no ar” para a melhoria das condições de sobrevivência da população brasileira. Ou seria mais um “voo de galinha”?


Grupo de Análise dos Impactos da Crise

Associação Brasileira de Economistas pela Democracia – ABED

Equipe Técnica: Adhemar Mineiro (Coordenação), Antônio Rosevaldo Ferreira da Silva, Eron José Maranho, Jaderson Goulart Junior, José Moraes Neto e Juarez Varallo Pont.

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