Nota Técnica – A Relevância do Censo Demográfico

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O Censo Demográfico, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, se constitui em uma importante ferramenta de apoio para a definição de inúmeras políticas públicas elaboradas nos âmbitos federal, estaduais e municipais, assim como para a tomada de decisão de numerosos investimentos e projetos realizados no âmbito do mercado, de forma ampla.

Diante desta expressiva importância do seu uso, que pode resultar em significativos efeitos para a socioeconomia brasileira, os limites e alcances dos dados/estatísticas coletados pelo Censo Demográficos devem ser considerados.

Havia uma previsão de realização do Censo Demográfico brasileiro em 2020, que, em função da COVID 19, foi inviabilizada diante da impossibilidade da coleta de dados frente as questões epidemiológicas existentes. Sua execução também foi inviabilizada em 2021 tendo em vista o drástico corte orçamentário realizado pelo então governo Bolsonaro, que impossibilitou a efetivação da logística necessária para a sua execução, a exemplo da contratação e treinamento de pesquisadores.

O Censo Demográfico previsto para 2020 foi iniciado somente no mês agosto de 2022, mesmo assim, contando ainda com grande parte das inúmeras dificuldades herdadas pelo negacionismo bolsonarista, agregadas ao não correto pagamento aos trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores contratados, dentre outras dificuldades. Ademais, esta realidade resultou na ampliação do período de referência de coleta dos dados, o que, em termos comparativos com censos anteriores, também gera inúmeros entraves técnicos no uso e conclusões dos estudos/pesquisas a serem realizados através dele.

No seu conjunto, tais entraves, podem resultar em efeitos negativos sobre a qualidade das informações disponibilizadas pelo Censo Demográfico de 2022. Ressalte-se também que o governo Bolsonaro inviabilizou a inserção de novos temas na pesquisa censitária detectados por grupos de pesquisadores ao longo dos anos intercensitários e seu posicionamento negativista estimulou o aumento do número de famílias que se recusaram a receber pesquisadoras/es e responder as perguntas contidas no Censo Demográfico, bem como, em algumas situações, responder as perguntas de forma incorreta.

É nesta realidade que o Censo Demográfico de 2022 foi realizado, e recentemente, o IBGE divulgou de forma bastante agregada que a população brasileira atingiu o seu maior volume, de 207,8 milhões de pessoas, neste ano, porém apresentou o menor ritmo de crescimento demográfico desde 1872. Esta dimensão demográfica se situou consideravelmente abaixo das inúmeras projeções realizadas pelo próprio IBGE ao longo nos últimos anos, que em 2021, chegou a ser estimada em cerca de 214,8 milhões de habitantes, ou seja, os resultados finais contabilizados pelo Censo Demográfico de 2022 apontam uma queda das projeções/previsões iniciais do volume da população brasileira em comparação ao divulgado oficialmente através dele.

Diante da realidade vivenciada em seus vários aspectos para a realização do Censo Demográfico de 2022, quais os determinantes deste diferencial de cerca de menos 7 milhões de habitantes da população brasileira ao longo deste curto espaço de tempo? São inúmeros e de diferentes razões, que a divulgação dos dados desagregados do Censo 2022 poderão esclarecer mais detalhadamente.

No Brasil, o desempenho dos componentes demográficos de fecundidade, mortalidade e saldo migratório, que determinam o crescimento populacional, têm acompanhado uma tendência mundial observada ao longo das últimas décadas. O ritmo de crescimento da população brasileira desde os anos 70 tem reduzido basicamente em função da queda das suas taxas de fecundidade e de mortalidade. O saldo migratório pouco tem influenciado na dimensão da população brasileira.

Entretanto, a existência da COVID 19, impactou diretamente nesta tendência uma vez que, por um lado, a taxa de fecundidade tendeu a cair ainda mais em relação a tendência observada anteriormente diante dos maiores riscos e perspectivas de sobrevivência das pessoas e, por outro, pelo aumento mais significativo da taxa de mortalidade observada da população brasileira, apesar de ser mais elevada nas pessoas mais idosas.

Tal realidade, se associa a outra questão que se baseia na qualidade dos dados/estatísticas obtidos através do Censo Demográfico de 2022. Esta qualidade, pode “ofuscar” ou não a real visão vivenciada pela socioeconomia brasileira. Por questões operacionais e técnicas vinculadas a elaboração do Censo Demográfico a qualidade das suas estatísticas divulgadas deve ser avaliada quando da definição do seu uso, tanto na definição de políticas públicas quanto nas ações diretamente relacionados ao mercado.

Ao que parece, os dados agregados sobre a dimensão da população brasileira, disponibilizados pelo Censo Demográfico de 2022, considerando-se as dificuldades vivenciadas para a sua realização, principalmente aquelas herdadas do governo Bolsonaro, sugerem uma maior cautela em seu uso.

Como diria o velho ditado: cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.


Grupo de Análise dos Impactos da Crise

Associação Brasileira de Economistas pela Democracia – ABED

Equipe Técnica: Adhemar Mineiro (Coordenação), Antônio Rosevaldo Ferreira da Silva, Eron José Maranho, Jaderson Goulart Junior, José Moraes Neto e Juarez Varallo Pont.

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One thought on “Nota Técnica – A Relevância do Censo Demográfico

  1. Gostaria de parabenizar aos autores pela oportuna abordagem de uma questão que provavelmente vai atormentar o judiciário. Administradores de municípios insatisfeitos com a população menor estão reagindo diante da provável redução de repasses da União e Estados. Políticas públicas decentes requerem estatísticas de qualidade. Quem não quer compromissos com uma gestão pública democrática vai exorcizar informações do IBGE.

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