O premiado Elias Jabbour conversou com a ABED em 2020

Cesar Locatelli
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No momento em que o professor Elias Jabbour recebe o Special Book Award of China 2022, pelo livro China: o socialismo do século XXI, com Alberto Gabriele, e assume a Diretoria de Pesquisas do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos BRICS, talvez seja um bom momento de ver ou rever a entrevista que a Associação Brasileira de Economistas pela Democracia fez com ele em novembro de 2020.

Jabbour falou sobre o pensamento de Ignácio Rangel, sobre A Nova Economia do Projetamento, sobre a nova engenharia social chinesa, sobre o século XXI e, claro, sobre repensar o Brasil.

Cinco perguntas para o professor Elias Jabbour

1 O pensamento de Ignácio Rangel

O geógrafo Armen Mamigonian, no livro que organizou com o economista José Márcio Rego, “O Pensamento de Ignácio Rangel”, escreveu que:

“Tanto para Ignácio Rangel como para Gramsci a verdade é revolucionária, daí decorrendo sua posição intransigente de remar contra a corrente, sempre que necessário, contra monetaristas e estruturalistas na questão da inflação brasileira, por exemplo. Daí ter sido sempre incômodo para os interesses dos poderosos e seus representantes no mercado de ideias e ‘formadores’ de opinião.”

Ele termina o artigo afirmando que “a luz de Ignácio Rangel, certamente, continuará a iluminar o Brasil por longo tempo.”

Queria que você comentasse esse parágrafo e nos dissesse por onde Ignácio Rangel capturou você?

2 A Nova Economia do Projetamento

Numa entrevista para o site da Fundação Maurício Grabois, você ressaltou o seguinte:

“Resgatamos a elaboração de Ignácio Rangel sobre a ‘economia do projetamento’ que surgiu no século passado e fruto da fusão entre a planificação soviética, o keynesianismo e a economia monetária. Essa economia foi proscrita com o fim da URSS, a emersão da dinâmica financeirizada de acumulação e o keynesianismo militarizado norte-americano. Esta economia renasce na China sob o acicate da ‘Nova Economia do Projetamento’, que pode ser vista como uma variação qualitativa do modo de produção socialista na China, gerando uma transição lenta e graduada, ‘planejamento compatível ao mercado’ ao ‘planejamento baseado no projeto’ (Project-Based Planning). Posso dizer que estou bem adiantado na categorização desta nova economia e em breve muitas novidades bem heterodoxas virão. A ‘Nova Economia do Projetamento’ é o socialismo versão 4.0.”

Você poderia aprofundar esse tema? Como você liga Ignácio Rangel ao socialismo 4.0?

3 Socialismo de mercado

Na mesma entrevista para o site da Fundação Maurício Grabois, você diz:

“Não gosto de trabalhar com conceitos apriorísticos, entre eles o de capitalismo e socialismo. O que existe na China é uma engenharia social nova que combina diferentes modos de produção, de diferentes épocas históricas, convivendo em uma certa ‘unidade de contrários’. Existe capitalismo na China, existem formas pré-capitalistas de produção que ocupam cerca de 400 milhões de camponeses. Existe o que eu chamo de ‘empresas não capitalistas orientadas ao mercado’, que são um mix de propriedade coletiva, com acionistas privados e estatais – mas sem primazia de capitalistas privados. E existe o núcleo da economia composto com uma centena de grandes conglomerados empresariais estatais, um sistema financeiro de longo prazo, capilarizado e estatal. Esse núcleo eu chamo de modo de produção socialista, o modo de produção dominante. Com o poder político exercido por um bloco histórico comprometido com uma estratégia de caráter socializante, o que não exclui a existência de contradições de múltipla monta no país. Nesse ‘socialismo de mercado, a capacidade do Estado de atuar na economia é quantitativamente maior e qualitativamente superior do que o verificado em um capitalismo, por exemplo.”

A gente, às vezes, ouve falar de ‘capitalismo de Estado’. Você pode comentar e nos contar mais sobre a combinação de diferentes modos de produção na China e o modo socialista dominante?

4 O século XXI

Em entrevista para o site do Instituto Humanitas Unisinos, você afirma que:

“É pelo diferencial na produtividade do trabalho que os diferentes modos de produção são superados. O arado de boi causou uma revolução tecnológica que levou ao fim o escravismo em prol do feudalismo. E assim sucessivamente. A superação do capitalismo vai demandar a existência de um modo de produção superior em matéria de geração de riqueza e sua distribuição. Tenho dito que as possibilidades abertas ao socialismo e à planificação econômica são imensas no mundo atual dada a maior capacidade de projetar e maxirracionalizar o processo de produção pela via da incorporação à economia real de todo esse aparato tecnológico à disposição. Se quisermos entender o século XXI teremos de entender e dominar a ciência da planificação econômica.”

Gostaria que você comentasse esse trecho da entrevista e nos dissesse o que está enxergando à nossa frente nesse século XXI.

5 Repensar o Brasil

O resumo de seu artigo para o livro “Repensar o Brasil”, com título “Sobre as Raízes e e as Influências Intelectuais do Pensamento de Ignácio Rangel”, afirma o seguinte:

“Tendo em vista os debates iniciados sobre a obra de Ignácio de Mourão Rangel, no bojo de seu centenário de nascimento (2014), este artigo tem por objetivo uma discussão inicial sobre as influências exercidas sobre o citado autor ao longo de sua extensa obra. Advogamos que a consequência do pensamento de Rangel foi resultante de diversas influências desde filosóficas (Hegel e Kant) –, passando por Adam Smith, Karl Marx, Vladimir Lênin – até a absorção, via Schumpeter, das ondas largas da conjuntura de Kondratiev e a utilização de postulados keynesianos e do estruturalismo cepalino. Tratam-se de influências que explicam, em grande monta, o êxito – em Rangel – tanto da transformação do materialismo histórico em algo profundamente brasileiro quanto a elaboração de uma Economia Política do Brasil.”

Você pode nos contar sobre esse artigo e, em que medida, é importante para o Brasil, nesse momento, rever o pensamento de Ignácio Rangel?

Breve currículo

Elias Marco Khalil Jabbour possui graduação em Geografia pela Universidade de São Paulo, mestrado e doutorado em Geografia Humana também pela USP. É Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais.

Sua atuação nas áreas de Geografia Humana e Economia Política brinda aqueles que acompanham seu trabalho, com visões particulares e originais tanto do socialismo quanto da dinâmica chinesa.

Foi assessor econômico da Presidência da Câmara dos Deputados entre 2006 e 2007.

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