Inflação global, guerra, crise ambiental e especulação

ABED
0 0
Read Time:3 Minute, 9 Second

por Daniel Höfling, Ricardo Buratini e José Ruas

Neste 2º episódio do programa “O Brasil e o Mundo em 30 Minutos”, os professores universitários Daniel Höfling, Ricardo Buratini e José Ruas, economistas com mestrado e doutorado pelo Instituto de Economia da Unicamp, desenham um cenário sombrio para o Brasil e o mundo por conta da especulação financeira envolvendo os preços do petróleo, responsável por 80% da matriz energética do mundo. Vem mais inflação com recessão por aí!

Na semana passada, o primeiro episódio do programa “O Brasil e o Mundo em 30 Minutos” discutiu os efeitos econômicos e geopolíticos da guerra na Ucrânia. É claro que a guerra afeta os preços do petróleo e do gás, presentes em toda a cadeia produtiva em escala global e que têm entre seus maiores produtores exatamente a Rússia, agora sofrendo um embargo econômico ordenado pela Otan.

Mas José Ruas considera que operam nos preços atuais do petróleo outras variáveis importantes. Por exemplo: desde 2015 os investimentos na indústria de petróleo caíram drasticamente. Caíram acima de 20% em 2015 e 2016 em todo mundo, em movimento ainda mais expressivo no Brasil após o impeachment de Dilma Rousseff. Em 2019, 2020 e 2021 os investimentos permaneceram deprimidos, incluindo também efeitos da pandemia de Covid-19, que paralisou boa parte da economia.

Os efeitos da pandemia sobre o petróleo foram tão devastadores que chegou a haver redução do preço do barril, o que retraiu os produtores, a fim de reequilibrar a oferta e a demanda. Ou seja, logo antes da guerra já havia um cenário de oferta em baixa, enquanto o mundo aumentava a demanda, porque começava a sair da letargia imposta pela pandemia.

Essa oscilação nos investimentos decorre em grande medida das expectativas de lucro do mercado de derivativos. Como acontece com outras commodities, o petróleo sofreu nas últimas décadas um processo chamado por Ruas de “financeirização”, ou seja, tornou-se presa de movimentos especulativos globais.

Daniel Höfling salientou outro problema, específico do Brasil: a política de preços adotada pela Petrobras, que acompanha as oscilações domercado internacional. “Os altos preços dos combustíveis no Brasil não estão sendo determinados pelos custos das empresas ou pela demanda local, mas sim pelo preço internacional que é em grande medida especulativo. A Petrobras, que é uma estatal e que teria uma função pública muito importante, não está sendo utilizada como um instrumento que poderia beneficiar a sociedade brasileira. Ela está se comportando como uma empresa privada qualquer, que apenas visa o lucro.”

O programa abordou ainda a questão existencial da ameaça representada pela mudança climática. E se o aumento de preços dos combustíveis fósseis impulsionar as pesquisas e a adoção de energias alternativas e renováveis? O clima global agradeceria, mas não é verdade.

Segundo Ricardo Buratini, só as “Polianas” que enxergam tudo “cor de rosa” e sem maldades acreditam nesse mercado que se auto-regula. Para Buratini a “transição energética”, que significaria levar o planeta a uma dependência menor dos combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), com o uso mais generalizado de energia renovável, ainda está num horizonte remoto.

“A Agência Internacional de Energia, a British Petroleum e outros analistas projetam que a demanda por petróleo e gás vai continuar crescendo pelo menos até 2035, o que é uma tragédia. A primeira conferência internacional sobre o meio ambiente foi em 1972. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) foi criado em 1988 no âmbito das Nações Unidas. O último relatório do IPCC, de fevereiro deste ano, inclusive, é um alerta dramático. Com todas as letras, eles dizem que estamos perdendo a janela de oportunidade. A vida no planeta está em risco.” E nem a guerra, nem o aumento dos preços dos combustíveis vão acelerar a transição energética. Veja todo o vídeo! Mais uma grande aula!

Happy
Happy
0 %
Sad
Sad
0 %
Excited
Excited
0 %
Sleepy
Sleepy
0 %
Angry
Angry
0 %
Surprise
Surprise
0 %

Average Rating

5 Star
0%
4 Star
0%
3 Star
0%
2 Star
0%
1 Star
0%

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Next Post

Mercado de créditos de carbono: caminho para o desenvolvimento sustentável

Por Maria Luiza Falcão Silva* Joaquim Pinto de Andrade* O artigo mostra o potencial do mercado de créditos de carbono para o desenvolvimento econômico do Brasil com equidade social e equilíbrio ecológico De acordo com notícia veiculada pela Agência Brasil, O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) vai comprar 10 […]

Você pode gostar de ler: