ABED e as eleições municipais de 2024

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imagem: ABED

O neoliberalismo, que avança sob diversas formas do centro para a periferia do mundo capitalista, não é apenas uma corrente da Economia em prol do livre mercado. Trata-se de um projeto global de pretensão hegemônica que se expande por meio da financeirização e da mercantilização dos bens e serviços essenciais para a vida humana, avançando através das fronteiras nacionais. Isso traz consigo a corrosão das bases do sistema democrático e do Estado de Bem-estar Social, juntamente com a concentração desmesurada da riqueza e da renda, o que leva ao aumento da desigualdade e da exclusão social.

A instabilidade econômica e os grandes desequilíbrios sociais e regionais do mundo contemporâneo refletem-se diretamente no ambiente político, ampliando os conflitos e configurando um cenário de disputas propício ao recrudescimento das forças da extrema-direita, à criminalização dos movimentos sociais e ao uso da força para conter ações reativas e mobilizações dos segmentos afetados.

O Brasil não está alheio a este cenário, e o ambiente político afigura-se conturbado, especialmente a partir das sucessivas crises econômicas que nos afetam desde 2008. O rejuvenescimento da democracia brasileira depois da Constituição de 1988 viu-se seriamente abalado pelo golpe branco de 2016, que derrubou o governo Dilma, pelo governo disfuncional e obscurantista que prevaleceu entre 2018 e 2022, pelo abuso de recursos privados e públicos na campanha eleitoral de 2022, carregada de fake news e discursos de ódio, culminando na tentativa frustrada de golpe em 08 de janeiro de 2023, contra o governo legitimamente eleito e recém-empossado.

Paralelamente à turbulência do ambiente econômico, ocorreram profundas transformações no cenário político-eleitoral, conforme se verifica pela composição partidária da Câmara Federal. O número de partidos com representação na Câmara passou de 15, nas eleições de 2002, para 30 nas de 2018 e 23 nas de 2022. Contudo, os 6 maiores partidos detiveram 78% das cadeiras em 2002, 48% em 2018 e 70% em 2022. Nas eleições de 2018, ocorreu uma fragmentação do eleitorado dos partidos tradicionais fora do campo da centro-direita (MDB, PSDB, DEM e PTB) em direção a outras siglas, que se agruparam no bloco parlamentar denominado ‘Centrão’.

As eleições de 2022 foram caracterizadas por forte disputa político-ideológica, com a apresentação de partidos identificados como de extrema-direita, um fato inédito no Brasil. Em decorrência, houve um esvaziamento do ‘Centrão’ em direção a partidos reconhecidamente de direita, especialmente o PL, União e PP (juntos com uma bancada de 205 deputados, 40% do total), que passaram a participar do grupo dos 6 maiores, junto com o PT, MDB e PSD.

A intensificação da polarização em 2022 tornou mais claro o quadro partidário em razão da maior explicitação da identidade programática e ideológica das legendas, tornando mais fácil para o eleitorado vislumbrar os caminhos alternativos das políticas públicas e da relação entre governo e sociedade, no que tange ao tratamento da dicotomia público-privado nas questões econômicas e sociais e, especialmente, ao conteúdo e os limites da democracia.

A ABED não poderia ficar alheia a esses fatos políticos e tem adotado, junto com outras entidades da sociedade civil, uma postura firme em defesa da democracia, dos direitos humanos e sociais, do desenvolvimento econômico-social inclusivo e sustentável, e a favor dos segmentos vítimas dos desmandos e das políticas públicas antipopulares que afetam a preservação do patrimônio público, o meio ambiente e, especialmente, as condições de vida dos trabalhadores e da população excluída e vulnerável.

As eleições municipais no Brasil ocorrerão em 6 de outubro de 2024, com segundo turno marcado para 27 de outubro. Os eleitores escolherão os prefeitos, vice-prefeitos e vereadores dos 5.568 municípios do país. Não podemos permitir que sejam uma oportunidade de enraizamento da extrema-direita na política brasileira e, para evitar que isso aconteça, é necessária uma oposição democrática, consistente e combativa. É preciso informar a população acerca das suas melhores opções. Informação é a melhor forma de evitar manipulações. O desafio adicional que se coloca é disputar um cenário eleitoral cada vez mais digital, com deepfake e memes, no qual o debate de ideias está secundarizado.

A ABED conclama as forças progressistas a se articularem no sentido de esclarecer a população para eleger candidatos que tenham compromisso com a população mais carente e com projetos de estímulo ao desenvolvimento econômico, social e ambiental; cidadãos e cidadãs que protagonizem os atores locais, seja na formulação de estratégias, na tomada de decisões ou na implementação de formas de participação democráticas.

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One thought on “ABED e as eleições municipais de 2024

  1. Estamos enfrentando uma polarização que não deixa você chegar e falar sobre assuntos relacionados à política, as pessoas estão sempre na defensiva e não quer ouvir. É triste, mas tá difícil falar sobre.

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