A Associação Brasileira de Economistas pela Democracia – ABED é uma entidade fundada para fortalecer o leque institucional voltado à luta pela democracia.
Comprometidos com o bem comum, a ABED e seus associados acreditam que não há possibilidade de uma sociedade economica e socialmente justa, e ambientalmente sustentável, sem o devido exercício do direito à participação política, sem o debate com ampla diversidade e pluralidade de pensamentos e sem a liberdade de imprensa e de manifestação. Acreditamos que uma sociedade desigual, afligida pela pobreza, fome e miséria crescentes, e com continuadas agressões ao ambiente, não é uma sociedade livre.
A plenitude dos direitos civis, políticos, culturais e sociais é o que permite o processo de desenvolvimento econômico, de superação das desigualdades e o estacamento da concentração de riqueza e de poder. É o que, portanto, define o caminho para melhores condições de vida da sociedade e para as garantias das liberdades individuais.
Inúmeras são as denúncias que apontam para as piores condições de vida de mulheres e negros, para as barreiras à participação igualitária em diversos campos da vida social e para as consequências que estas desigualdades e discriminações produzem não apenas para estes grupos específicos, mas para a sociedade como um todo.
Lutamos por uma sociedade mais inclusiva, solidária e pujante onde nenhum ser humano seja discriminado por sua opção sexual, seu gênero, sua etnia ou sua cor. Lutamos pela radicalização da participação popular e pelo fortalecimento das pautas identitárias, democráticas e inclusivas. Esta luta deve ser um exercício comum a todos os cidadãos e cidadãs, em seu cotidiano.
Nós da ABED acreditamos na força transformadora da cultura e na necessária interferência do Estado para superar a hegemonia de grupos de poder, que defendem tão somente os interesses de uma plutocracia dominante, impõem sua maneira de ver e sua moral e excluem as visões de mundo das classes trabalhadoras.
Consideramos que é importante pensar em uma educação que envolva a criticidade e a criatividade e que tenha sua discussão conduzida como parte do desenvolvimento de uma nova cultura. Assim como as forças de produção, o controle da consciência é uma arena de luta política. Não haverá igualdade democrática se não existir cultura democrática. E a cultura democrática precisa ser reconstruída sobre as bases da consciência e da ampla participação, e não sob a direção vertical de uma “vanguarda iluminada”.
O que observamos é que, somente nos momentos eleitorais vêm à tona, com força e ampla divulgação, as propostas de programas de governo e as concepções de mundo dos partidos e dos líderes políticos.
É nesse momento, em 2022, ano do bicentenário da Independência do Brasil e de eleições gerais que, visando à construção de um Brasil soberano e democrático, exige-se de nós o fortalecimento da discussão de um projeto de nação. Nesse sentido, a ABED se reafirma enquanto instituição de luta, que patrocinará, no campo das ciências sociais, análises, debates e discussões sobre o nosso país e seu futuro. Discussões essas que serão pautadas na perspectiva territorial, cultural, ambiental, histórica, econômica, política e em suas inúmeras vertentes. Tais discussões serão reflexos do conhecimento científico em oposição ao negacionismo, portanto, importantes contribuições ao debate eleitoral.
A economia mundial passa por profundas transformações com a emergência da 4ª Revolução Industrial, com a inteligência artificial, sistemas ciber-físicos, metaverso, criptoativos, internet das coisas e computação em nuvem, reformulando todo o sistema produtivo global, com impactos brutais sobre os empregos, tanto nos aspectos quantitativos como qualitativos. Adicionalmente, a crise climática global condicionará a forma de produção e inserção internacional das empresas nacionais.
Nesse sentido, é grave a inexistência de uma política industrial ativa e de proporções adequadas ao desafio global; é inaceitável o desmantelamento dos programas de ciência e tecnologia, o que agrava ainda mais a perda de densidade e complexidade da produção industrial brasileira. O Brasil corre o sério risco de ficar ausente de qualquer setor relevante da economia mundial e sofrer com uma destruição e precarização das condições de trabalho, sem precedentes. Tal situação poderá conduzir à ampliação da miséria, à falta de perspectivas profissionais e humanas do povo brasileiro, expandindo a concentração de renda e poder nas mãos de poucos.
Olhando para o passado recente vemos mais de 630.000 mortos pela Covid-19, prova da ausência do Estado e presença de um governo que desmerece a ciência, despreza a vida, em um país cujos mecanismos institucionais foram incapazes de barrar os desastres por ele produzidos. Muitas mortes poderiam ter sido evitadas não fosse a quebra do pacto civilizatório representado pelo bolsonarismo e seus seguidores.
A ABED vem de pronto posicionar-se a favor de um Estado forte, responsável e qualificado, livre dos grilhões que lhe são impostos por mecanismos recessivos e tetos, a um só tempo, debilitantes e inatingíveis. Somos por um Estado capaz de ser instrumento da retomada do desenvolvimento econômico e social, voltado para a superação da desigualdade crescente no país. Somos a favor de um Estado que não se submeta à égide do discurso neoliberal, um dos grandes culpados pela crescente problemática do abandono do desenvolvimento socioeconômico, pela deterioração das instituições democráticas e da capacidade de desenvolver nossa nação. Somos a favor de um Estado que incentive a construção de uma nova hegemonia cultural das massas e com maior respeito ao meio ambiente.
Nós da ABED nos posicionamos pelo fortalecimento e renovação das instituições democráticas como forma de combater o autoritarismo. Pelo fortalecimento das instituições de ensino e das atividades científicas. Pela ampliação das formas de participação popular. Pelo fortalecimento de empresas nacionais essenciais e seu direcionamento estratégico para o desenvolvimento socioeconômico soberano.
Acreditamos na possibilidade de mudança com investimentos públicos em educação, saúde, segurança, assistência social, combate à fome e defesa intransigente do meio ambiente. Pois, tais ações beneficiam os necessitados, animam a nação e assentam a estrada do desenvolvimento sustentado, integrado e igualitário.
Defendemos a possibilidade de retomada do crescimento econômico com geração de empregos e melhoria geral da renda, qualificação das pessoas, com planejamento estratégico de médio e longo prazo, definição de prioridades, recuperação da capacidade fiscal e reorientação do papel ativo do Estado, em parceria com a iniciativa privada. Acreditamos no compromisso da nação com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU e o sonho de um mundo melhor e mais solidário.
Reiteramos, dessa forma, que somos contrários às reformas trabalhista e previdenciária, recentemente aprovadas, que apenas produziram penalidades ao sistema social, degradando conquistas históricas dos trabalhadores, ampliando a exploração, com a restrição de seus direitos. Acreditamos fielmente na necessidade de revisão e aprimoramento desta pauta. Sabemos bem que há pontos de congruência entre a manutenção de direitos inalienáveis, com o desenvolvimento econômico, a atividade empresarial e a sustentação fiscal da União e de seus Entes Federados.
Somos contrários aos programas de desestatização que visam somente à geração de caixa, bem como, a venda das estruturas de riqueza nacional, patrimônios inalienáveis da população brasileira e fundamentais para o futuro da nação. O abandono das nossas riquezas e das empresas estatais, em setores estratégicos, cria dependência, aflige nossa soberania e reduz os mecanismos de gestão da desigualdade e do desenvolvimento brasileiro.
Nós da ABED, somos força de combate à política fascista aliada aos credos liberais, aos que negam a ciência e desenvolvem realidades paralelas baseadas em mentiras, fake news, discursos de ódio, preconceito e outras técnicas de manipulação e lavagem cerebral. Somos ímpeto contra a desigualdade em todos os seus aspectos. Somos um movimento pela liberdade e pela democracia.
Associação Brasileira de Economistas pela Democracia
Fevereiro de 2022