Nota do Coletivo Minas Gerais a Respeito de Recentes Declarações o Exmo. Sr. Governador Romeu Zema

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Diante das recentes declarações do Governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo),
em defesa de uma frente Sul/Sudeste “contra” as regiões Nordeste/Norte e a busca de um
“protagonismo político” que, segundo suas palavras, as regiões “nunca” tiveram, como
economistas pela democracia, apresentamos as seguintes considerações:


Primeiramente, é falsa e enviesada a afirmativa de que as regiões Sul e Sudeste do Brasil
carecem de protagonismo político. Mais do que isso, a afirmativa nega a história dos
estados de ambas as regiões e incorre em erros e preconceitos. Basta que, sem muito
esforço intelectual, lembremos os movimentos políticos em favor da integração nacional
e da redução das desigualdades regionais, que tiveram forte participação de lideranças
das regiões Sul e Sudeste, entre as décadas de 1930 e 1960, processo interrompido pelo
golpe militar de 1964. Aliás, é ainda mais oportuna a lembrança com relação a esse
período de nossa história, não apenas como forma de sinalizar protagonismo das regiões
Sul e Sudeste, mas para fazermos menção à importância de um projeto de Brasil
desenvolvido. Foi nesse período, com as convergências possíveis para a época e as
contradições inerentes ao processo, que conseguimos, ainda que temporariamente,
romper com um modelo de país meramente exportador de produtos primários e constituir
um processo de industrialização e nossas vias de desenvolvimento. Construção essa que
precisa ser retomada, cientes das desigualdades regionais e dos desafios do complexo
processo de integração, que demanda, necessariamente, forte cooperação entre as regiões.
Justo o oposto do que está expresso nas recorrentes manifestações do Governador Zema.

O Brasil se construiu como uma federação unificada justamente por ser um projeto que
busca articular diferentes protagonismos político-regionais e, nesse sentido, tudo que
alcançamos até aqui, em termos de conquistas civilizatórias é fruto da contribuição de um
único povo, de todas as suas regiões. Nesses termos, é notória a vastíssima contribuição
das regiões Norte e Nordeste, sobre qualquer ponto de vista, do econômico, social,
passando pelo cultural, ao político e a luta pela democracia em nosso país. A riqueza e
diversidade sócio ambiental, presentes em nossa Amazônia, dispensam quaisquer
comentários. Sua importância para o equilíbrio do meio ambiente transcende os limites
geográficos do próprio país.

O Brasil, com suas dimensões continentais e hiper complexidade socioeconômica,
somente poderá superar os seus desafios civilizatórios, ainda bastante latentes, por meio
da retomada de uma construção interrompida, baseada não somente na integração, mas
na solidariedade entre suas regiões. Para tanto, se faz necessário um novo marco
institucional de planejamento e execução de políticas públicas, para garantir a melhor
alocação de recursos e investimentos. Assim, formas institucionais como Consórcios
Públicos devem ser guiadas profissionalmente e orientadas por um projeto nacional de
desenvolvimento, para que facilite a ativação do mercado interno nacional e a
disseminação de inovações, e não como instrumentos de competição proto-política,
baseada em xenofobia e na exploração de gatilhos emocionais reacionários.

Queremos lembrar, também, que vasta área do território mineiro está na Região da
SUDENE, e tem em suas características socioeconômicas, muitas das mesmas tradições
e condições de vida e cultura, da região Nordeste. Muitos de nós somos descendentes
diretos de nordestinos e, com orgulho e união, somos testemunhas de sua incrível
determinação, bravura e dinamismo pessoal. Somos a Minas do cerrado, da Mata
Atlântica e da Caatinga.

Por fim, como economistas, pessoas/profissionais que dedicam suas vidas a pensar
soluções para o Brasil, e, fundamentalmente, como mineiros, desautorizamos as palavras
proferidas pelo Governador e reforçamos o nosso compromisso com o Brasil na sua
diversidade e união de esforços em prol do desenvolvimento econômico, com justiça
social e democracia.

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