Luciano Coutinho: Reindustrialização exige novo paradigma tecnológico

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O ex-presidente do BNDES observou, em seminário de centenário do PCdoB, que superação da dependência industrial do Brasil precisa incorporar novas megatendências tecnológicas e climáticas.

por Cezar Xavier Publicado no Portal Vermelho

Neste sábado (14), o PCdoB, por meio da Comissão do Centenário, e a Fundação Maurício Grabois promoveram, a terceira mesa do seminário PCdoB centenário e contemporâneo. Realizado de forma híbrida, na sede do partido em São Paulo e pelas redes sociais, o evento faz uma reflexão sobre a trajetória de um século de lutas da legenda comunista.

O economista Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES, tratou dos desafios ao Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento a partir de megatendências e o futuro da indústria pós-pandemia.

Ele falou das transformação tecnológicas muito intensas que estão transformando paradigmas consagrados. “A mudança climática também é um processo perigoso com efeitos disruptivos muito graves sobre economias e sociedades. As classes dominantes compreenderam a necessidade de controlar esse processo enquanto há tempo”.

O investimento em infraestruturas de energias renováveis deve subir 2.5% do PIB mundial para 4,5%.

Em sua opinião, a guerra na Ucrânia, assim como a pandemia, tem mostrado a importância de um rearranjo das cadeias globais de valor concentradas na Ásia. Passa a haver um desconforto com a ascensão vitoriosa de China, Coréia e Japão, que deixam de ser montadores e produtores de partes e peças, e passam a ter marcas próprias e líderes, ameaçando oligopólios dominados por EUA e Europa. A tentativa de contenção e sufocamento da Huawei é um exemplo desse desconforto.

O choque da covid também mostra como o lockdown na China impacta as cadeias produtivas, já que há uma excessiva dependência das cadeias de valor. Já a guerra na Ucrânia mostra a necessidade de politicas mais ativas de regionalização para cadeias de fornecimento, podendo abrir oportunidades ao Brasil.

Uma das sequelas da pandemia foi, na opinião de Coutinho, a destruição de empregos e pequenas empresas para sempre. A informalidade trabalhista também aumentou muito. “A queda nominal da renda média mensal do brasileiro, com inflação subindo, tornou o empobrecimento palpável. Parcela que foi tirada da pobreza foi jogada de volta. Uma crise gestada para explodir”.

Para ele, com os gastos que o governo promoveu na pandemia e o não pagamento de precatórios para garantir aumento no auxílio emergencial, a situação fiscal vai ser uma herança difícil. “Quais serão a inflação e os juros herdados pelo futuro governo, tendendo a chegar a dois dígitos?”, diz ele, concordando que esta eleição será definidora do futuro do país.

Coutinho fez uma apresentação dos impactos da automação e inteligência artificial, além da massificação da internet mundialmente para a indústria e a economia. Para ele, esse cenário coloca a indústria brasileira sob ameaça, pois o país está entre os 35 com lacunas na inovação e tecnologia, já que 37% da indústria brasileira é analógica.

Apenas 15 dominam esse conteúdo 4.0 (EUA, Japão, China, Alemanha, Taiwan, França, Suíça, Coreia, Reino Unido, Holanda, Israel, Itália, Suécia, Áustria e Canadá). São 140 os países totalmente excluídos.

A economia industrial brasileira perdeu posição para o México, Rússia, Espanha, Turquia e Indonésia, caindo da 10a. para a 15a. posição. Aumentou muito a importação de partes e peças com esvaziamento das cadeias produtivas.

A conclusão para o economista que o Brasil tem condições de fazer renascer sua indústria. “Nascer de novo com novos paradigmas de produção”. Ele ressalta que isso exige qualificação de empresários, não só de trabalhadores. Para ele é indispensável ter projeto nacional de desenvolvimento a partir da articulação de consenso político amplo.

“Emprego na cidade não se resolve com agronegócios e mineração”, observa Coutinho. Outro argumento que demonstra a importância do avanço industrial é a segurança sanitária, e a própria soberania do país.

“O desafio politico é como legitimar e articular uma política macroeconômica e industrial que aglutine interesses sociais e consiga induzir o renascimento da indústria com novas missões e objetivos”, concluiu ele.

A mediação dos debates foi feita pelo economista Aloisio Sérgio Barroso, diretor da Fundação Maurício Grabois.

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