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O IV Fórum China-CELAC

26 de maio de 2025

imagem: Mihai Cauli

texto:  Adhemar S. Mineiro

  Tendo a sua criação decidida em uma reunião em Brasília entre o líder chinês Xi Jinping e líderes latino-americanos e caribenhos em 2014, o Fórum CELAC-China teve a sua primeira reunião em Beijing, em 2015. Portanto, essa quarta reunião da semana passada ocorre 10 anos depois da primeira. Vale lembrar que o Fórum nasce dentro da perspectiva chinesa de que o país pela primeira vez possa implementar um projeto global, a partir da chamada Iniciativa Cinturão e Rota (mais conhecido pelo “nome fantasia” de “Nova Rota da Seda”), anunciado em 2012. Por outro lado, vale também observar que, do ponto de vista latino-americano, especialmente, o Fórum acontece depois de um longo período de crise na CELAC, do qual a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos aos poucos parece se recuperar. Como cimento da parceria, há o enorme comércio entre a China e os países da CELAC e os investimentos, realizados e anunciados pelos parceiros chineses.

  A estrutura do Fórum é bastante simples, é um fórum intergovernamental baseado em reuniões ministeriais e na implementação de suas diretrizes e deliberações. Dada a importância do evento, muitas vezes participam os líderes máximos dos países, chefes de Estado e de governo, como nesse último, onde vários presidentes latino-americanos, entre os quais o presidente brasileiro Lula, e o próprio presidente chinês Xi Jinping participaram.

  A reunião anterior foi realizada no México, em 2021. Desde então, muita mudança no cenário internacional aconteceu. O essencial é que esses encontros buscam permitir aos países participantes coordenarem propostas e esforços e definir estratégias próximas para tratar de temas globais e regionais, definindo uma agenda de discussões e buscando conectar possibilidades de cooperação. O cenário atual, em que os EUA de Trump fecham as portas a maiores oportunidades de aproximação com os países da América Latina e Caribe, abre para a China enormes possibilidades de se oferecer como um parceiro confiável para projetos comuns de futuro, e inclusive de financiar de forma bilionária esses projetos. Ou, em outras palavras, em um momento em que muitas oportunidades se fecham para América Latina e Caribe, a China aparece como um porto seguro. Para os chineses, é uma oportunidade a ser aproveitada de dar mais um passo rumo a um futuro de muito maior inserção internacional.

  De fato, os presentes firmaram o Plano de Ação Conjunto CELAC-China para Cooperação em Áreas-Chave (2025-2027). Para viabilizar esse plano, a China, tal qual anunciado por Xi Jinping na reunião, coloca à disposição cerca de 60 bilhões de yuans (cerca de US$ 8,3 bilhões) para centenas de projetos, que além do apoio direto chinês devem contar também com outras formas de apoio financeiro com influência chinesa, como o próprio Banco dos BRICS.

  Muitos desses projetos se referem à construção de uma infraestrutura logística e de energia, capaz de viabilizar na prática o sentido geral da Iniciativa Cinturão e Rota, de uma integração maior com a China, mesmo para países que até aqui têm se furtado a integrar formalmente a Iniciativa, como é o caso do Brasil. É, portanto, uma iniciativa de sentido econômico, estratégico e geopolítico fundamental.

  A grande questão que deve levar à reflexão dos líderes da América Latina e Caribe, em especial a dos países estratégicos nessa região (vale ressaltar que, além de Lula, estiveram na reunião os presidentes Petro, da Colômbia, e Boric, do Chile) é que a parceria oferecida pela China até agora prevê o aprofundamento da integração comercial no formato em que foi conduzida até aqui. Ou seja, os países da nossa região são fornecedores de produtos primários ao mercado chinês, e a China, um fornecedor de manufaturados aos países da América Latina e Caribe.

  Este não é um desenho muito diferente do estabelecido entre a América Latina e seus velhos colonizadores, ou as potências que os substituíram. Assim, é fundamental que os países latino-americanos e caribenhos, em especial os maiores países latino-americanos, pensem se essa estratégia está de fato em consonância com o que querem desenhar para o seu futuro. Neste momento em que a China disputa a hegemonia internacional, é previsível que esteja mais aberta a negociar novas demandas dos países com os quais busca estabelecer laços de interconexão culturais, econômicos e de cooperação que, talvez, em um outro momento, não esteja mais tão flexível.

  Do ponto de vista dos países latino-americanos e caribenhos, esse é o momento de pensar uma estratégia de futuro e negociar com a China, e serão tão mais fortes quanto mais comum a eles for esta estratégia de futuro. Caso já nesse primeiro momento optem por se acomodar a uma estratégia que reforça uma estrutura econômica extrativista e subordinada, provavelmente o futuro será o aprofundamento deste modelo, apenas com um novo parceiro estratégico.

 

publicação original:

https://terapiapolitica.com.br/o-iv-forum-china-celac/

 
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