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Cúpula do G20 sob tensão

26 de maio de 2025

Reunião do G20 na Cidade do Cabo

Foto: REUTERS/Nic Bothma

texto: Brasil 247

 

  O sucesso da cúpula de Johanesburgo para a África do Sul e para os países em desenvolvimento dependerá do reforço de alianças para aumentar o comércio.

  A África do Sul exerce em 2025 a presidência do G20 sob o tema Solidariedade, Igualdade e Sustentabilidade. Entre os tópicos em discussão está o comércio internacional. Os membros do G20 deliberarão e explorarão como aproveitar a capacidade do comércio para apoiar o crescimento inclusivo, o emprego e o desenvolvimento sustentável.

  O G20 é um fórum de cooperação internacional entre as maiores economias do mundo, tanto desenvolvidas quanto em desenvolvimento. Criado em 1999 tem com propósito discutir e encontrar soluções para questões econômicas e financeiras globais, visando fortalecer a economia internacional e promover o desenvolvimento socioeconômico em escala mundial. 

 

  O grupo é composto por 19 países - Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, República da Coreia, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos e dois organismos regionais União Europeia e União Africana. A presidência é rotativa. Em 2024 foi exercida pelo Brasil e a cúpula de chefes de Estado ocorreu no Rio de Janeiro.

  A África do Sul assume a presidência em um momento de tensões geopolíticas e fragmentação das cadeias de suprimentos globais provocadas pela guerra comercial deflagrada pela presidência dos Estados Unidos (EUA) sob o comando de Donald Trump, que se popularizou como “O  Tarifaço de Trump” tendo em vista o anúncio de medidas protecionistas jamais vistas desde a década de 1930, sob a forma de tarifas exorbitantes  para produtos importados pelos EUA sob a alegação de que todos os países do mundo exploram os estadunidenses.  

  A Lei Smoot-Hawley, aprovada nos Estados Unidos em 1930, é um exemplo notável de práticas mercantilistas, que visavam fortalecer a economia nacional, principalmente através da balança comercial favorável, ou seja, exportações superiores às importações e que levaram a um aumento significativo das tarifas alfandegárias sobre mais de 20.000 produtos importados, sendo frequentemente apontada como fator que agravou a Grande Depressão, levando à redução do comércio internacional e aumento do desemprego. 

  A recente tensão diplomática entre os presidentes Donald Trump e Cyril Ramaphosa lançou uma sombra sobre a próxima cúpula do G20, a vigésima do grupo, marcada para novembro em Johanesburgo. 

  Durante uma reunião no Salão Oval da Casa Branca, na quarta-feira (21 de maio), Trump acusou, sem apresentar provas concretas, o governo sul-africano de permitir um "genocídio" contra a minoria branca africâner, baseando-se em vídeos e artigos controversos e de procedência não confiáveis. Ramaphosa refutou as alegações, destacando que a maioria das vítimas de violência na África do Sul são negras e que a reforma agrária em curso visa corrigir desigualdades históricas na distribuição de terras herdadas do apartheid.  

  Além do confronto, com forte cunho racista, as ações subsequentes de Trump, como a concessão de asilo a agricultores brancos e cortes na assistência ao país, indicam uma deterioração nas relações bilaterais entre os dois países. Difícil vislumbrar algum avanço em relações civilizadas com os Estados Unidos do truculento Trump, no atual momento. 

  O presidente sul-africano não deixou barato: virou-se para o presidente americano e disse: "Sinto muito, mas não tenho um avião para lhe dar."

  Nada resumiu de forma tão sucinta a maneira como o resto do mundo sente que deve abordar o presidente dos Estados Unidos. E o contexto não passou desapercebido. Mais cedo naquele mesmo dia, o governo dos EUA, sob a orientação do presidente Trump, oficialmente aceitou o luxuoso Boeing 747, avaliado em mais US$150 bilhões, como presente do Catar, diante de um mundo perplexo com o despotismo e postura de Trump, na busca nada ética por ampliar seu bilionário patrimônio. Age às claras, como se fosse a coisa mais natural e honesta desse mundo.

  O Sr. Trump aceitou a provocação retrucando: "Gostaria que você tivesse um avião para oferecer”, disse ele com um toque de indiferença. "Eu aceitaria. Se o seu país oferecesse um avião à Força Aérea dos EUA, eu aceitaria”. Cyril Ramaphosa transformou a história do avião em piada insinuando que o presidente estadunidense gosta de presentes pessoais e caros.

  Não podendo oferecer um jato ao presidente da África do Sul trouxe um livro com cerca de 13 quilos com fotos de campos de golfe sul-africanos - "Trouxe um livro de golfe realmente fantástico para você", disse ele. Também um homem muito rico e poderoso, Ramaphosa veio acompanhado de outro empresário bilionário sul-africano e alguns golfistas, para mexer com a suscetibilidade do Sr. Trump. 

  Diferente do ucraniano Zelensky , Ramaphosa não se intimidou no icônico salão Oval da Casa Branca, agora transformado num palco de horrores e lugar de intimidação e racismo por Donald Trump. Já foram três chefes de Estado sujeitos a constrangimentos: Ucrânia, Canadá e África do Sul.

  Sob a presidência do G20, a África do Sul pretende focar em temas como combate à fome, mudanças climáticas e inclusão digital, enfatizando a solidariedade internacional na linha da Cúpula anterior sob presidência do Brasil. 

  Os países africanos enfrentam complicações adicionais devido à sua forte dependência de commodities, à maior exposição a riscos climáticos, ao aumento dos casos de insegurança alimentar e ao crescente endividamento. Enfrentar esses desafios sobrepostos exige maior cooperação internacional e mobilização de apoio e recursos para combater as disparidades internas causadas pelos efeitos distributivos desiguais do comércio e da globalização. Difícil de realizar sem o suporte dos países ricos.

  A ausência do secretário de Estado dos EUA Marco Rubio em reuniões preparatórias para a cúpula do G20 e a recusa de Trump em confirmar sua participação na cúpula refletem tensões geopolíticas crescentes e preocupações com o que pode acontecer na reunião de Johanesburgo. 

  A presidência do G20 pela África do Sul, em 2025, representa um momento estratégico para o país e para o continente africano, com foco em desafios globais e prioridades regionais. 

  O tema "Solidariedade, Igualdade e Desenvolvimento Sustentável" escolhido se alinha com a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas e a Agenda 2063 da União Africana. 

  As prioridades incluem:
- Combate à fome e à pobreza: dar continuidade à “Aliança Global contra a Fome e a Pobreza”, lançada sob a presidência brasileira, com ênfase em segurança alimentar e resiliência climática.
- Transição energética justa: busca de financiamento para energias renováveis, como hidrogênio verde, e apoio a países em desenvolvimento na descarbonização.
- Reforma das instituições financeiras globais: defesa de condições equitativas de acesso a crédito e redução do custo de capital para economias emergentes, além de combate a fluxos financeiros ilegais – estima-se que cerca de US$ 88,6 bilhões anuais são drenados da África.
- Governança da inteligência artificial: regulação ética e inclusiva para garantir que a tecnologia beneficie sociedades, com foco no Sul Global.

  A África do Sul tem destacado o legado do Brasil no G20 e a intenção de fortalecer pautas e avanços da 19a Cúpula que ocorreu em 2024 sob a presidência do Brasil.

Entre esses: 

- O G20 Social: espaço para diálogos inclusivos com sociedade civil, setor privado e grupos marginalizados, criado em 2024, será mantido em 2025 .
- Taxação de super-ricos: discussões iniciadas pelo Brasil sobre tributação de grandes fortunas serão aprofundadas, embora reconhecidas como complexas devido a questões de soberania.
- Integridade e anticorrupção: o “Plano de Ação Anticorrupção do G20 (2025-2027)” e recuperação de ativos ilícitos estará na pauta.

  A presidência sul-africana buscará colocar o desenvolvimento do continente no centro das discussões levantando questões como:  a Área de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA, na sigla em inglês);  defesa de que países africanos ricos em minerais essenciais (para transição energética) sejam os maiores beneficiários de sua exploração e a questão da dívida soberana com a proposta de criação de uma comissão sobre o “custo de capital” com o intuito de revisar riscos e prêmios de crédito injustos para economias em desenvolvimento. 

  Entre as inovações da próxima cúpula está prevista a ampliação de diálogos com grupos como o Civil20 (C20) e o Youth20 (Y20) - grupos de engajamento oficiais do G20, que representam a sociedade civil e os jovens, respectivamente. Discussões sobre estratégias para emprego jovem e igualdade de gênero no mercado de trabalho, herdadas do Grupo de Trabalho sobre Emprego liderado pelo Brasil, serão retomadas. Os Emirados Árabes Unidos serão convidados para participar na cúpula de 2025. 

  Divergências entre membros do G20 sobre temas como guerra na Ucrânia e comércio global podem dificultar consensos. A China tem procurado um posicionamento mais neutro em relação à guerra na Ucrânia, recusando-se a condenar a invasão russa, o que gera alguma tensão com outros membros do G20.

  O financiamento climático continua apresentando lacuna entre promessas e recursos efetivos para adaptação climática, especialmente na África. E a pressão por resultados tangíveis é muito grande. São elevadas as expectativas para avanços em segurança alimentar e redução de desigualdades, áreas críticas para o continente africano.

  A cúpula do G 20 de Johanesburgo, em novembro de 2025, será um teste para a liderança da África do Sul e para a capacidade do grupo de navegar em um ambiente internacional cada vez mais hostil e fragmentado. A busca por equilibrar agendas globais e regionais, com destaque para solidariedade internacional e justiça climática é um desafio no complexo momento pelo qual passa a economia global. Tudo indica que a indiferença dos Estados Unidos de Trump em relação a pauta do G20 entregará a liderança do grupo de mão beijada para a China. A Europa não está em condições de assumir essa liderança enroscada com seus próprios problemas, em guerra com a Rússia de Putin e oprimida pela dinastia da família Trump. 

  O sucesso da cúpula de Johanesburgo para a África do Sul e para os países em desenvolvimento dependerá do reforço de alianças para aumentar o comércio, com destaque para o grupo BRICS e países do Sul Global, capitaneados pela China, e da capacidade de mediar tensões geopolíticas, garantir financiamento para iniciativas críticas e consolidar o legado de inclusão deixado pela presidência brasileira. 

publicação original:

https://www.brasil247.com/blog/cupula-do-g20-sob-tensao

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