O Plano Real, que completa 30 anos nesta segunda-feira (1º de julho), é avaliado de forma dual pelo economista Diogo Santos, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Fundação Ipead), vinculada à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em entrevista ao Estado de Minas, Santos destaca que, embora o Plano tenha conseguido controlar a hiperinflação que assolava o Brasil desde meados dos anos 1980, ele também gerou consequências negativas para a indústria e o emprego. Segundo o economista, a estabilização dos preços foi alcançada às custas de uma taxa de câmbio e de juros elevadas, o que prejudicou a produção nacional e resultou em um processo de desindustrialização que ainda impacta o país.
O economista ressalta que o principal legado positivo do Plano Real foi o controle da inflação, que havia sido um desafio persistente para a economia brasileira. Santos menciona que o aprendizado com os fracassos dos planos anteriores e a retomada da entrada de recursos financeiros externos foram fundamentais para o sucesso do Plano. No entanto, ele alerta para o legado negativo, que é a armadilha de baixo crescimento econômico. A manutenção de uma taxa de câmbio valorizada e de juros altos prejudicou a competitividade da indústria nacional, resultando em menor geração de empregos bem remunerados e maior dependência da exportação de commodities como minério de ferro, soja e petróleo.
Diogo Santos explica que o Plano Real, além de controlar a inflação, trouxe uma série de mudanças macroeconômicas que impactaram a economia brasileira de maneira duradoura. A adoção do regime de metas de inflação, a busca por superávit primário e a liberdade para a entrada e saída de capitais, combinadas com juros elevados, moldaram o funcionamento da economia até hoje. Segundo ele, essas políticas proporcionaram maior liberdade e segurança para os setores financeiros, mas também tornaram o ambiente econômico menos propício ao desenvolvimento econômico sustentável.
A entrevista também aborda a desvalorização da moeda ao longo dos anos e as consequências disso para a economia brasileira. Santos afirma que a desvalorização é um processo normal, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil. Desde 1995, o real sofreu uma desvalorização de cerca de 708%. Ele compara essa desvalorização com a do dólar, que, sendo uma das moedas mais estáveis, desvalorizou cerca de 100% no mesmo período. A valorização inicial do real em relação ao dólar permitiu um alto poder de compra, mas também trouxe consequências negativas, como a competição desleal entre produtos nacionais e importados, afetando a geração de empregos.
Por fim, Santos comenta sobre a acessibilidade de bens de consumo que antes eram restritos a camadas mais abastadas da sociedade. Ele explica que a valorização do real, sustentada pela entrada de dólares, permitiu a estabilidade da moeda e aumentou o poder de compra das famílias de menor renda. No entanto, ele alerta que, embora a estabilidade dos preços seja importante, não é suficiente por si só para garantir o desenvolvimento econômico sustentável. Santos defende que é necessário elevar a produtividade, modernizar a estrutura produtiva e assegurar um crescimento econômico duradouro para que o Brasil possa alcançar estabilidade com prosperidade econômica e social.
Fonte: Estado de Minas
Link para a entrevista completa:
Plano Real, 30 anos: “Ainda não conquistamos estabilidade com prosperidade”