Xi Jinping: para bons e maus entendedores

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Por Cesar Locatelli*

“Devemos aprofundar a confiança mútua por meio de trocas e aprendizado mútuo, ou permitir que a arrogância e o preconceito ceguem a consciência? O curso da história será moldado pelas escolhas que fizermos”, disse Xi Jinping.

“A mudança é a natureza do universo”. Este é o princípio orientador do discurso do presidente chinês. O hegemonismo, as guerras e os privilégios de alguns poucos países são ali exibidos em contraposição ao caminho desejado, e já em marcha, para a multipolaridade, a cooperação e uma ordem internacional mais justa e equitativa.

A reunião dos Brics com mais de 50 outros países não deve ser entendida como confronto ou pedido para que os países tomem partido, reforça Xi Jinping. Sua bandeira é pela construção de uma arquitetura de paz e desenvolvimento.

Certamente referindo-se à OTAN e seu expansionismo diz ele: “Os fatos têm mostrado que qualquer tentativa de continuar ampliando uma aliança militar, de expandir a própria esfera de influência ou espremer a zona de proteção de outros países só pode criar problemas de segurança e insegurança para todos os países”.

“O hegemonismo não está no DNA da China; nem a China tem qualquer motivação para se envolver na competição entre grandes potências”, acrescentou ele, reforçando que a China está do lado certo da história.

Um recado ao centro e um incentivo à periferia conclui seu discurso: “Uma missão formidável é uma missão magnífica e gloriosa. Desde que trabalhemos em unidade e fortaleçamos a cooperação, não seremos intimidados por nenhum risco ou desafio no caminho à frente e certamente conduziremos o gigantesco navio do desenvolvimento humano para um futuro melhor!

* * *

Discurso de Xi Jinping na Cerimônia de Encerramento do Fórum de Negócios 2023 dos Brics

O presidente chinês, Xi Jinping, fez um discurso na terça-feira (22) na Cerimônia de Encerramento do Fórum de Negócios 2023 dos BRICS, que foi lido pelo ministro do Comércio chinês, Wang Wentao.

Segue a íntegra do discurso:

Fortalecer a solidariedade e a cooperação para superar riscos e desafios e construir juntos um mundo melhor

“Sua Excelência Presidente Matamela Cyril Ramaphosa,

Membros da Comunidade Empresarial,

Senhoras e senhores,

Amigos,

Quero parabenizar o sucesso do Fórum de Negócios dos Brics na África do Sul.

Há dez anos, aqui na África do Sul, nós, líderes do BRICS, presenciamos o nascimento do Conselho de Negócios dos BRICS (Brics Business Council). Desde então, o Conselho manteve-se fiel à sua missão fundadora. Aproveitou as oportunidades para aprofundar a cooperação, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social dos países membros dos BRICS e ajudando a sustentar o crescimento econômico global.

Neste momento, as mudanças no mundo, em nossos tempos e na história estão se desenrolando como nunca antes, levando a sociedade humana a um momento decisivo. Devemos buscar a cooperação e a integração ou apenas sucumbir à divisão e ao confronto? Devemos trabalhar juntos para manter a paz e a estabilidade, ou apenas proceder como sonâmbulos em direção ao abismo de uma nova Guerra Fria? Devemos abraçar a prosperidade, a abertura e a inclusão, ou permitir que atos hegemônicos e de intimidação nos lancem na depressão? Devemos aprofundar a confiança mútua por meio de trocas e aprendizado mútuo, ou permitir que a arrogância e o preconceito ceguem a consciência? O curso da história será moldado pelas escolhas que fizermos.

Um antigo pensador chinês observou que “seguir a tendência subjacente levará ao sucesso, enquanto ir contra ela só pode levar ao fracasso”. Nós, a humanidade, alcançamos desenvolvimento econômico e progresso social notáveis nas últimas décadas, e isso porque tiramos lições das duas guerras mundiais e da Guerra Fria, seguimos a tendência histórica da globalização econômica e embarcamos no caminho certo de abertura e desenvolvimento com benefícios mútuos. Nosso mundo de hoje tornou-se uma comunidade com um futuro compartilhado, na qual todos partilhamos um enorme interesse pela sobrevivência. O que as pessoas em vários países desejam não é, definitivamente, uma nova Guerra Fria ou um pequeno bloco exclusivo; o que desejam é um mundo aberto, inclusivo, limpo e bonito, que desfrute de paz duradoura, segurança universal e prosperidade comum. Tal é a lógica do avanço histórico e da tendência dos nossos tempos.

Dez anos atrás, fiz uma proposta de construir uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade, convocando todos os países a transformar este planeta que todos chamamos de lar em uma família harmoniosa. Diante de ventos fortes, águas agitadas e até mesmo tempestades traiçoeiras, nós, em todos os países, precisamos defender as visões corretas do mundo, da história e de nossos interesses gerais, e agir para traduzir a visão de uma comunidade com um futuro compartilhado para humanidade em realidade.

Muitos mercados emergentes e países em desenvolvimento (EMDC) chegaram ao que são hoje depois de se livrarem do jugo do colonialismo. Com perseverança, muito trabalho e enormes sacrifícios, conseguimos conquistar a independência e temos explorado caminhos de desenvolvimento adequados às nossas condições nacionais. Tudo o que fazemos é para proporcionar vidas melhores ao nosso povo. Mas um país, obcecado por manter sua hegemonia, tem feito de tudo para paralisar os EMDC. Quem se desenvolve rapidamente torna-se alvo a ser contido; quem se aproxima dos países mais desenvolvidos torna-se alvo de obstrução. Mas isso é inútil, pois já disse mais de uma vez que apagar a lâmpada dos outros não trará luz para si mesmo.

Todo país tem direito ao desenvolvimento e as pessoas de todos os países têm a liberdade de desfrutar de uma vida feliz. Pensando nisso, propus a Iniciativa de Desenvolvimento Global, com o objetivo de promover o desenvolvimento para todos da comunidade internacional e impulsionar a Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável. Com o apoio de muitos países, foram obtidos ganhos sólidos no prosseguimento desta iniciativa, com o florescimento da cooperação em vários domínios. A China trabalhará com todos os outros países para acelerar a cooperação no âmbito da Iniciativa de Desenvolvimento Global, fortalecer os motores do desenvolvimento global, promover a reforma da Organização Mundial do Comércio de maneira abrangente e profunda, enfrentar desafios comuns juntos e tornar a vida melhor para as pessoas por todo o mundo.

Precisamos alcançar a segurança universal.Nos últimos anos assistimos a um mundo turbulento; muitos países e regiões são atormentados por guerras e conflitos e muitas pessoas são desalojadas. Membros da comunidade internacional compartilham a esperança urgente de erradicar a causa raiz de conflitos e guerras e encontrar uma maneira fundamental de alcançar paz e segurança duradouras globalmente. Os fatos têm mostrado que qualquer tentativa de continuar ampliando uma aliança militar, de expandir a própria esfera de influência ou espremer a zona de proteção de outros países só pode criar problemas de segurança e insegurança para todos os países. Só um compromisso com uma nova visão de segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável pode levar à segurança universal. No ano passado, apresentei a Iniciativa de Segurança Global, que obteve o apoio de mais de 100 países e organizações internacionais. A China está pronta para prosseguir nesta iniciativa em conjunto com todos os outros. Devemos dialogar e nos opor ao confronto, formar parcerias, mas não alianças, buscar resultados ganha-ganha, fazer oposição ao jogo de soma zero e trabalhar juntos para construir uma comunidade de segurança.

Precisamos continuar comprometidos com o intercâmbio entre civilizações e a aprendizagem mútua. Uma flor sozinha não pode fazer uma bela primavera; somente o desabrochar de uma rica variedade de flores pode trazer a primavera ao jardim global. A civilização humana é colorida por natureza. É precisamente por causa de suas diferenças históricas, culturais e de sistema que todos os países precisam interagir uns com os outros, aprender uns com os outros e avançar juntos. Criar deliberadamente divisão com a afirmação de “democracia versus autoritarismo” e “liberalismo versus autocracia” só pode dividir o mundo e levar ao choque de civilizações.

Apresentei a Iniciativa de Civilização Global, pedindo a promoção da diversidade de civilizações globais, os valores comuns da humanidade e intercâmbios e cooperação culturais e interpessoais. A China saúda todos os outros países que se envolvam na cooperação no âmbito desta iniciativa. Devemos encorajar diferentes civilizações a desenvolverem seu melhor e florescerem juntas; devemos quebrar barreiras às trocas e renovar a civilização humana.

Senhoras e senhores,

Amigos,

Como observou um antigo filósofo chinês: “A mudança é a natureza do universo”. A ascensão coletiva dos mercados emergentes e países em desenvolvimento (EMDC) representados pelos BRICS vem mudando fundamentalmente o panorama global. Os EMDC contribuíram com 80% do crescimento global nos últimos 20 anos. Sua participação no PIB global aumentou, de 24% há 40 anos, para mais de 40%. Assim como diz um verso de um poema chinês: “Nenhuma montanha pode deter o fluxo crescente de um poderoso rio”. Qualquer que seja a resistência que possa existir, os BRICS, uma força positiva e estável, continuarão a crescer.

Forjaremos uma parceria estratégica mais forte dos BRICS, expandiremos o modelo “BRICS Mais”, promoveremos ativamente a expansão da adesão, aprofundaremos a solidariedade e a cooperação com outros EMDCs, promoveremos a multipolaridade global e uma maior democracia nas relações internacionais, e ajudaremos a tornar a ordem internacional mais justa e equitativa. A reunião entre os BRICS e mais de 50 outros países, na África do Sul hoje, não é um exercício de pedir aos países que tomem partido, nem um exercício de criar confronto em bloco. Pelo contrário, é um esforço para expandir a arquitetura da paz e do desenvolvimento. Apraz-me constatar que mais de 20 países estão a bater à porta dos BRICS. A China espera ver outros mais aderirem ao mecanismo de cooperação do BRICS.

Senhoras e senhores,

Amigos,

A China continua comprometida com uma política externa independente de paz e com a construção de uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade. Como país em desenvolvimento e membro do Sul Global, a China respira em conjunto com outros países em desenvolvimento e persegue com eles um futuro partilhado.

A China defendeu resolutamente os interesses comuns dos países em desenvolvimento e trabalhou para aumentar a representação e a voz dos EMDC nos assuntos globais. O hegemonismo não está no DNA da China; nem a China tem qualquer motivação para se envolver na competição entre grandes potências. A China está firmemente do lado certo da história e acredita que uma causa justa deve ser perseguida para o bem comum.

Atualmente, nós, chineses, sob a liderança do Partido Comunista da China, estamos avançando no grande rejuvenescimento da nação chinesa em todas as frentes, perseguindo a modernização chinesa, que visa alcançar a prosperidade comum, o avanço material e ético-cultural, a harmonia entre a humanidade e a natureza e o desenvolvimento pacífico para uma enorme população. A modernização chinesa criou uma nova forma de avanço humano e apresentou um novo futuro de modernização. Esperamos que outros países em desenvolvimento possam aproveitar as conquistas notáveis da civilização humana e encontrar os seus próprios caminhos para a modernização, de acordo com as suas condições nacionais.

Alcançar um desenvolvimento de alta qualidade é uma das principais prioridades no objetivo da China de se transformar plenamente em um país modernizado. Estamos empenhados em aplicar uma nova filosofia de desenvolvimento e criar um novo paradigma de desenvolvimento. Na última década, a China contribuiu com mais de 30% do crescimento global anual. Este ano, a economia chinesa tem mantido o ritmo de recuperação e crescimento. A China desfruta de várias vantagens distintas: uma economia de mercado socialista em termos sistêmicos, um mercado superdimensionado em termos de demanda, um sistema industrial completo em termos de oferta e, em termos de recursos humanos, uma força de trabalho e empresários abundantes e de alto calibre. A economia chinesa tem uma forte resiliência, um enorme potencial e uma grande vitalidade. Os fundamentos que sustentam o crescimento a longo prazo da China permanecerão inalterados. O navio gigante da economia chinesa continuará a quebrar as ondas e a navegar em frente.

A China permanecerá uma oportunidade importante para o desenvolvimento mundial. Nossa porta está aberta para qualquer pessoa que queira se engajar num processo cooperativo conosco. Sendo uma economia de grande dimensão, a China permanecerá firme no avanço de uma abertura de alto padrão. Continuaremos a expandir o acesso ao mercado, a eliminar a lista negativa para o investimento estrangeiro e a abrir ainda mais o setor dos serviços modernos. Melhoraremos constantemente o ambiente de negócios, forneceremos tratamento igualitário para empresas com investimento estrangeiro, promoveremos um ambiente de negócios orientado para o mercado de classe mundial, governado por uma estrutura legal sólida e construiremos uma rede globalmente orientada de áreas de livre comércio de alto padrão. Continuaremos avançando na conservação ecológica, acelerando a construção de uma Bela China, avançando ativa e prudentemente em direção ao pico de carbono e à neutralidade do carbono e buscando uma transição ecológica completa no desenvolvimento econômico e social. No futuro, enquanto se esforça para alcançar a modernização para seus mais de 1,4 bilhão de habitantes, a China certamente contribuirá ainda mais para a economia global e fornecerá ainda mais oportunidades para a comunidade empresarial global.

Senhoras e senhores,

Amigos,

Uma missão formidável é uma missão magnífica e gloriosa. Desde que trabalhemos em unidade e fortaleçamos a cooperação, não seremos intimidados por nenhum risco ou desafio no caminho à frente e certamente conduziremos o gigantesco navio do desenvolvimento humano para um futuro melhor!

Obrigado.”

Publicado por CGTN | Traduzido por César Locatelli.

Publicado anteriormente no GGN.

*Economista e mestre em economia.

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