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CPI

20 de maio de 2025

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imagem: Mihai Cauli

texto:  Julio Pompeu

  Veridiana olhou-se no espelho mais uma vez. Prometeu para si mesma que seria a última. Olhou-se mais quatro vezes depois disso. Estava atrasada, mas por lá tudo atrasava. Com olhar milimétrico avaliou seu penteado, sobrancelhas, blusa, batom. Estava tudo no lugar. “Será?”. Mais uma olhada. “A senhora já pode entrar”, anunciou o educado engravatado. 

  A sala estava cheia. Parlamentares, assessores, jornalistas e gente difícil de definir pela aparência. Podiam ser assessores esquisitos, criminosos, perdidos ou fãs. 

  Estava acostumada às lentes da internet, mas aquilo era diferente. A mistura de seriedade institucional com o grotesco dos parlamentares parecia uma mistura de dois mundos inconciliáveis, o seu, da pantomima da internet e busca de seguidores a todo custo e o do parlamento, de onde se esperaria mais a magnanimidade que a arquitetura do Congresso evoca do que a estupidez natural ou simulada da maioria dos parlamentares.  

  Não era burra. Nem trouxa. Sabia que o C de CPI era de Circo. E que aqueles deputados queriam chamar a atenção para si mesmos criando algum tipo de constrangimento ou humilhação para ela. As perguntas, os discursos sem sentido, razão ou vergonha, os fatos sem verdades, tudo ali era constrangimento, do método ao objetivo. Constrangia quem assistia ao espetáculo. Constrangia quem, involuntariamente, participava dele. 

  Veridiana decidiu que com ela não seria assim. Era profissional da arte de chamar a atenção. Não se permitiria ser usada por aquela gente que podia ser muito esperta nas suas negociatas, mas que lhe pareciam amadores no negócio que era o seu: aparecer na internet.  

  O ambiente não era o seu, mas o show seria todo seu. Cumprimentou a todos como cumprimentava seus seguidores, transformando o início de seu depoimento em mais um de seus vídeos. Devolveu ironia com ironia. Fez-se de séria, ingênua, convencida, vítima, forte, corajosa, burra, triste, inteligente e perdida. Tudo ao mesmo tempo, na medida do que convinha ao melhor recorte de vídeo.  

  Foi um sucesso. Foi ofendida por deputados, perturbados pela presa aparecer mais do que os predadores. Ganhou seguidores. Furou sua bolha. Tornou-se ainda mais conhecida. Seus contratos de publicidade ficaram mais valiosos. 

  Deitou-se com a sensação de missão cumprida. Tomou uma taça de vinho caro para comemorar sozinha. “Idiotas… Idiotas…”, pensou. Leu os comentários aos primeiros recortes de vídeo de seu depoimento. Elogios, aplausos, declarações de amor, os haters de sempre. Sorria largamente.  

  Um único comentário lhe incomodou realmente. “E a verdade?”. Era só isso. Só uma pergunta. Sem ódio. Sem ironia. Sem elogio. Só uma simples pergunta. “É… E a verdade?…”. 

  Se lembrou do início de sua carreira de influencer. Famosa justamente por dizer o que pensava sem medo. Era sincera. Quando deixou de ser? Não sabia responder. Quando foi que tudo virou mentira em sua vida? Perguntava o mesmo de Brasília. Quando foi que aquilo virou circo? Quando foi que a política passou a ser feita só com mentiras? Será que já houve alguma verdade por lá? E na sua vida? Será? E se a única verdade for que tudo na sua vida é de mentira? Que tudo no país é de mentira? 

  As perguntas lhe tiraram o sono. Serviu outra taça de vinho, para relaxar. E outra, para relaxar mais ainda. E outra garrafa, para esquecer. Não queria mais perguntas. Só queria esquecer que em algum momento de sua vida esqueceu-se de quem era. 

publicação original:

https://terapiapolitica.com.br/cpi/

 

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