GT BRICS Informe 4 – 21/05/25

Por: Joaquim Pinto de Andrade
As tarifas impostas pelos Estados Unidos à China reacendem a tensão comercial global e reforçam o papel dos países do BRICS na construção de uma nova ordem internacional multipolar.
As medidas protecionistas adotadas por Donald Trump durante seu primeiro governo, e agora renovadas no contexto do seu segundo mandato, continuam a influenciar o cenário geopolítico internacional. O chamado “tarifaço” de 02 de abril, voltado principalmente para conter o avanço da indústria chinesa, provocou efeitos colaterais que vão além da Ásia e consolidam a polarização entre grandes blocos de poder global.
Nesse contexto, o grupo BRICS — formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e recentemente ampliado para incluir países como Irã, Egito e Etiópia, Indonésia — ganha protagonismo como alternativa estratégica ao eixo liderado pelos Estados Unidos e Europa Ocidental.
Bloco fortalece-se diante do protecionismo
Com o avanço do protecionismo no Ocidente, os países do BRICS passaram a aprofundar sua cooperação econômica, financeira e tecnológica. A substituição do dólar em parte das transações bilaterais e a criação de mecanismos como o Novo Banco de Desenvolvimento são sinais de um bloco que busca mais autonomia em relação ao sistema financeiro global tradicional.
A parceria sino-russa, reforçada pelas sanções ocidentais impostas à Rússia em decorrência da Guerra na Ucrânia, se soma ao interesse crescente de Índia e Brasil em ocupar espaços deixados por uma China pressionada. O resultado é uma reconfiguração das cadeias produtivas e maior integração entre os países emergentes.
Nova dinâmica das cadeias de suprimento
A imposição de tarifas sobre produtos chineses também gerou uma busca por alternativas produtivas no Sul Global. Índia e Brasil, por exemplo, passaram a ser vistos como alternativas para empresas que desejam diversificar seus fornecedores e escapar das disputas entre Washington e Pequim.
Esse movimento reposiciona os países do BRICS como atores centrais em uma economia global que já não gira exclusivamente em torno do eixo EUA-China.
Do econômico ao político
Embora originalmente concebido como um bloco econômico, o BRICS tem ampliado sua atuação para o campo político. Temas como a reforma das instituições multilaterais — ONU, FMI, OMC — e a defesa de uma governança global mais representativa passaram a integrar a pauta dos encontros do grupo.
Com os ventos contrários do Ocidente, o bloco encontra mais motivos para unir esforços e consolidar uma agenda comum em defesa de um mundo multipolar.
Um novo centro de gravidade
A crescente fragmentação da ordem global, acelerada por medidas como o tarifaço de Trump, contribui para a consolidação do BRICS como um novo centro de gravidade na geopolítica internacional. Enquanto os EUA endurecem suas políticas comerciais, o BRICS amplia sua coesão interna e atrai novos aliados entre os países em desenvolvimento.
A disputa entre as grandes potências está longe de terminar. Mas, nesse tabuleiro global em transformação, o BRICS parece cada vez mais preparado para ocupar uma posição de destaque.
A reunião de chefes de Estado no Rio de Janeiro, em 6 e 7 de julho do corrente ano, durante a presidência brasileira, será importante para avaliar que caminho trilhará o bloco, que reúne países líderes do Sul-Globo, no contexto de desglobalização da economia mundial.