BRICS pode puxar a expansão da economia mundial
imagem: Divulgação – BRICS
texto: Joaquim Pinto de Andrade
O BRICS agrega economias heterogêneas, mas com algumas características similares: são economias emergentes, com grande extensão territorial .
O Brasil assumiu a presidência do BRICS em janeiro deste ano e adotou como tema central o fortalecimento da Cooperação do Sul Global por uma Governança mais Inclusiva e Sustentável. Tem atuado em dois eixos principais: Cooperação do Sul Global e Parcerias BRICS para o Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental.
O BRICS tem despertado interesse cada vez maior em uma conjuntura geopolítica permeada por incertezas:
- Em 2006, o conceito foi incorporado à política externa dos quatro países iniciais: Brasil, Rússia, Índia e China. Reuniu-se formalmente pela primeira vez às margens da Assembleia Geral da ONU de 2006, em Nova York.
- Em 2009, os ministros das Relações Exteriores se reuniram na Rússia para a primeira cúpula oficial.
- Em 2011, a África do Sul se juntou ao grupo, que passou a ser chamado de BRICS.
- Em 2014, criaram o Banco de Desenvolvimento (NBD), sediado em Xangai
- Em agosto de 2023, foi anunciado que seis países ingressariam no bloco a partir de janeiro de 2024: Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Irã e Indonésia. Formou-se o BRICS+.
- O Brasil, em 2025, está na presidência do BRICS+ e aqui se dará a próxima Cúpula.
São objetivos do grupo: cooperação entre países emergentes para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental; garantir o crescimento de suas economias e ampliar contatos e cooperação em setores específicos.
O BRICS agrega economias heterogêneas, mas com algumas características similares: são economias emergentes, com grande extensão territorial, populosas, com significativo potencial de crescimento econômico e dotadas de grandes reservas de recursos naturais e biodiversidade. Não é um bloco econômico como Mercosul ou a União Europeia, é um agrupamento informal de países, que fazem parte de uma organização intergovernamental que atua como fórum de articulação político – diplomática de países do Sul Global e de cooperação nas mais diversas áreas.
Recentemente o BRICS+, como todas as economias do mundo, se viram surpreendidos com a ascensão ao governo dos Estados Unidos, do “republicano” Donald Trump. Como maior economia e democracia do mundo contemporâneo, o choque da vitória do inescrupuloso Trump se espalhou por todos os continentes. Desorganizou o comércio global. Atrapalha o crescimento econômico mundial e acena, com o Tarifaço de 2 de abril de 2025, para uma estagflação, inclusive nos Estados Unidos. Com certeza haverá custos globais em termos de inflação, recessão e crise climática e o BRICS será impactado. Cada país de forma diferente. As incertezas se multiplicaram. O império americano passa por uma crise de credibilidade. Os mercados estão em pavorosa.
A administração de Donald Trump, caracterizada pela política “America First” e por uma abordagem unilateral e protecionista, ameaça afetar o progresso do BRICS+ de várias maneiras, tanto desafiando quanto potencialmente incentivando maior cooperação entre os países que o constituem.
A relação entre as políticas e ações dos Estados Unidos e os desdobramentos no BRICS+ é complexa e multifacetada, com impactos em áreas que vão da economia à geopolítica.
Abaixo, destaco os principais pontos de impacto e suas implicações:
1.Políticas Comerciais e Financeiras
As altas tarifas impostas pelos EUA à China aceleram a busca de parcerias no BRICS+ e com outros países como recentemente fez a China se aproximando do Japão e Coreia do Sul, e fortalecem a busca por comércio em moedas locais, reduzindo a dependência do dólar.
A fragmentação do comércio global e a desorganização das cadeias de valor podem retroceder a padrões similares aos que sucederam a Grande Depressão de 1929/1930, com práticas “beggar-thy-neighbor” – políticas de empobrecer seus vizinhos.
Sanções financeiras dos EUA contra Rússia, só incentivam o BRICS+ a desenvolver sistemas de pagamento alternativos (CIPS chinês) e a ampliar o uso de moedas como o yuan e a rúpia em transações bilaterais.
O CIPS é apoiado pelo Banco Popular da China e foi lançado em 2015 como parte de um esforço político para internacionalizar o uso da moeda chinesa. Em 2022, o CIPS processou cerca de 96,7 bilhões de yuans (14,03 bilhões de US$ dólares), com cerca de 1427 instituições financeiras em 109 países e regiões ligadas ao sistema.
2. Geopolítica e Alianças
A tensão bilateral entre EUA-China transforma o BRICS+ em uma plataforma de contra hegemonia, com a China buscando influência global e a Rússia aprofundando laços energéticos e de defesa com o grupo após as sanções da Guerra na Ucrânia.
Índia e Brasil se comportam como atores pivôs:
– A Índia oscila entre o BRICS e alianças ocidentais (como o QUAD), devido a rivalidades com a China.
– O Brasil, sob presidência temporária do BRICS em 2024, adota postura pragmática e cautelosa, equilibrando parcerias com os EUA e apoio ao bloco.
3. Instituições Multilaterais
O fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) pode se apresentar como alternativa no caso dos EUA reduzirem apoio ao FMI e ao Banco Mundial. O NDB ganha espaço como financiador de infraestrutura em países emergentes, embora enfrente desafios de governança e escala.
O BRICS pressiona por reforma na governança global por meio de maior representatividade em organizações como a ONU e a OMC, capitalizando o unilateralismo dos EUA para questionar estruturas dominadas por potências ocidentais.
4. Energia e Meio Ambiente
Políticas pró-petróleo dos EUA na era Trump beneficiam exportadores do BRICS+ (Rússia, Arábia Saudita, Emirados Árabes), mas aprofundam a crise climática. Enquanto o BRICS+ pode liderar em energias renováveis, divergências internas dificultam ações unificadas.
A saída dos EUA do Acordo de Paris sob Trump abre espaço para o BRICS+ assumir protagonismo, embora países como China e Índia ainda resistam a metas rígidas de descarbonização. Mas alcançam liderança em tecnologias revolucionárias para fazer a transição na direção do alcance da neutralidade de carbono.
5. Nas áreas de segurança e tecnologia
Posturas agressivas dos EUA no Indo-Pacífico ou Oriente Médio podem aproximar membros do BRICS+ em defesa, mas rivalidades como China vs. Índia ainda limitam avanços.
Restrições dos EUA a empresas chinesas (Huawei, TikTok) aceleram a busca do BRICS+ por padrões tecnológicos próprios – 6G, IA – e cadeias de suprimentos independentes.
6. Coesão e Expansão do BRICS+
Pressões externas unificam o grupo contra um “inimigo comum” (EUA), mas divergências persistem. São exemplos: conflitos sino-indianos, diferenças ideológicas entre Rússia e países moderados como Emirados Árabes.
7. Expansão e heterogeneidade:
A entrada de novos membros em 2023 – Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Indonésia – amplia a influência geopolítica do Bloco, mas dificulta a coordenação devido a interesses díspares – Arábia Saudita vs. Irã.
Portanto, a estratégia dos EUA de confronto com a China e o protecionismo fortalece o BRICS+ como bloco alternativo, mas sua eficácia dependerá da capacidade de gerenciar divergências internas.
O mundo caminha para uma nova ordem multipolar, onde o BRICS+ desafia a hegemonia ocidental, enquanto os EUA buscam conter o avanço chinês via alianças (AUKUS, QUAD) e tarifaços inconsequentes e irresponsáveis.
A expansão para BRICS+ representou para o Brasil, em particular, uma perda de poder relativo. Nossas fortes ligações com a Europa e os Estados Unidos têm nos levados a tomar posições de neutralidade em relação a conflitos como Rússia vs. Ucrânia/OTAN/EUA. Estamos em posição de pragmática “cautela”. Nenhum outro país da América Latina se associou ao grupo. Cresceram as representações da Ásia e África.
A Agenda Brasileira para sua presidência em 2025 – Cooperação do Sul Global e Parcerias BRICS para o Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental – é uma oportunidade para a China, grande líder do Sul Global, afirmar sua grandeza como locomotiva do mundo e ‘contrapeso climático. Como maior emissor global e, de forma aparentemente contraditória, líder em tecnologias verdes (ex.: veículos elétricos, energia solar), a República Popular da China deve usar o BRICS para ampliar sua influência, promovendo iniciativas como o “Global Development Initiative – Iniciativa de Desenvolvimento Global (GDI, na sigla em inglês)”.
A Iniciativa de Desenvolvimento Global (GDI) é uma proposta chinesa para o desenvolvimento mundial. O objetivo é ajudar os países a expandir a sua capacidade de desenvolvimento socioeconômico. A China persegue um objetivo de desenvolver seus parceiros em prol de benefícios recíprocos.
A GDI visa apoiar a realização de todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, revitalizando a parceria entre países, promovendo um desenvolvimento global mais forte, mais verde e mais saudável.
O GDI promove a cooperação internacional em oito áreas ditas prioritárias: redução da pobreza, segurança alimentar, resposta à pandemia e vacinas, financiamento para o desenvolvimento, mudanças climáticas e desenvolvimento verde, industrialização, economia digital e conectividade na era digital.
Em outubro de 2022, mais de 100 países e organizações internacionais expressaram o seu apoio à GDI. E mais de 60 países se juntaram ao Grupo de Amigos do GDI na ONU.
Essa ação soma-se ao BRI – Iniciativa Cinturão e Rota – fortalecendo a economia chinesa como carro chefe do crescimento econômico nesse momento difícil de desorganização da economia mundial, com os Estados Unidos sob um governo insano e individualista do MAGA e uma Europa em colapso, meio perdida com relação ao espaço que ocupa na geopolítica global.
Assim, o governo Trump, ao adotar políticas confrontacionais e protecionistas desafia o BRICS ao fragilizar economias dependentes de exportações e estimular divisões geopolíticas (ex.: Índia vs. China). Por outro lado, cria incentivos para o grupo crescer ampliando cooperação em comércio, finanças e segurança capitaneadas pela China, e reduzindo a dependência de instituições ocidentais.
O bloco começa a se projetar como líder da recuperação da economia mundial embora o carro chefe, a China, esteja em um momento difícil de desaceleração do crescimento, e da imperiosa procura por novas alianças e mercados em consequência da guerra comercial travada com os EUA.
As ações dos Estados Unidos funcionam tanto como catalisador de união quanto como amplificador de fragilidades no BRICS+, redefinindo o tabuleiro geopolítico do século XXI. O sucesso do bloco dependerá de sua capacidade de superar divergências internas e capitalizar as lacunas deixadas pelo unilateralismo dos EUA.
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