O Preço do Curto Prazo: Como a Pressão Financeira Está Erodindo a Indústria Americana
10 de fevereiro de 2025
imagem: Paulo Gala
texto: Paulo Gala e Felipe Augusto
O declínio de grandes indústrias americanas tem sido um tema recorrente em análises econômicas, e um artigo recente do Financial Times aponta algumas das principais razões para esse fenômeno. Entre os fatores destacados, está o foco excessivo em ganhos financeiros de curto prazo, que leva as empresas a priorizarem resultados imediatos em detrimento de estratégias de longo prazo. Essa mentalidade compromete investimentos essenciais em inovação e desenvolvimento.
Outro ponto crítico é a diluição da propriedade entre acionistas. A dispersão acionária dificulta a construção de uma cultura organizacional sólida e impede a definição de uma visão estratégica consistente. Além disso, muitas empresas preferem distribuir dividendos generosos a seus investidores em vez de reinvestir os lucros na expansão e modernização de suas operações.
A desconexão entre a administração e o chão de fábrica também é uma preocupação. Quando as decisões estratégicas são tomadas sem levar em conta a realidade dos processos produtivos, a eficiência operacional e a capacidade de inovação da empresa ficam comprometidas.
A história da Kodak é um exemplo emblemático desse problema. Apesar de ter explorado a tecnologia digital desde os anos 1970, a empresa optou por continuar lucrando com sua divisão de filmes analógicos. Esse conservadorismo e a resistência à mudança levaram à sua irrelevância no mercado, quando a fotografia digital se tornou dominante.
A Boeing é outro caso emblemático. A empresa sofreu com a dispersão acionária e com a perda de sua cultura de engenharia, afastando especialistas do topo da organização. Isso contribuiu para os problemas recentes da companhia, especialmente na qualidade de seus produtos e na segurança operacional. Em contraste, a Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, tem uma estrutura acionária diferente: uma fundação controla parte significativa das ações, garantindo estabilidade e uma visão estratégica de longo prazo.
A Pfizer também ilustra os desafios enfrentados por grandes corporações ao priorizarem dividendos e recompra de ações em vez de investimentos internos. A empresa conseguiu um grande avanço ao desenvolver vacinas contra a Covid-19, mas já sente novamente a pressão do mercado financeiro por resultados de curto prazo.
Por fim, o artigo destaca a tentativa de venda da Embraer para a Boeing em 2019, um movimento que poderia ter sido desastroso para a indústria aeronáutica brasileira. A lição central é que nem empresas nem governos devem se deixar dominar pela lógica financeira de curto prazo, mas sim priorizar o desenvolvimento produtivo e tecnológico para garantir um crescimento sustentável.
imagem: The Big Read
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