Oxfam denuncia que 1% mais rico já queimou a sua cota anual de carbono
15 de janeiro de 2025
imagem: IHU.unisinos
texto: Paulo Rivas
A ONG Oxfam o batizou de Dia do Plutocrata. Este é o dia em que 1% dos que mais acumulam riqueza no planeta atinge a sua cota anual de gases do efeito estufa, se quisermos que as alterações climáticas não ultrapassem os 1,5ºC. E este ano não demorou muito: caiu no dia 10 de janeiro.
A reportagem é de Paulo Rivas, publicada por El Salto, 13-11-2025.
Os dados, divulgados pela filial britânica da organização, são um marco, pois deixam claro que aquele 1%, ou seja, os 77 milhões de pessoas com mais riqueza acumulada, só precisou de dez dias para ultrapassar sua cota. São bilionários, milionários e qualquer pessoa que ganhe mais de 140 mil dólares por ano, um grupo cujo poder econômico aumenta com o sistema econômico atual, que representa um aumento constante da desigualdade global.
“Os líderes que não agem são os culpados por uma crise que ameaça a vida de milhares de milhões de pessoas” (Chiara Liguori)
A Oxfam vem alertando há anos sobre como o colapso climático é desproporcionalmente impulsionado pelos chamados super-ricos, cujo estilo de vida envolve o dobro das emissões anuais de nada menos que a metade da população mais pobre do planeta. No extremo oposto aos dez dias dos mais ricos, alguém da metade mais pobre da população precisaria de 1.022 dias – quase três anos – para esgotar a sua cota do orçamento global anual de carbono.
Especificamente, embora 1% seja, com 76 toneladas de CO2 per capita por ano, responsável por 15,9% das emissões globais, segundo dados de 2019, a existência de 3,9 bilhões de pessoas implica 7,7% das emissões, como indicam os números do Estocolmo Instituto do Meio Ambiente (SEI) em sua pesquisa Igualdade climática: um planeta para os 99%.
Oxfam pede aumento de impostos sobre bens de luxo poluentes
“O futuro do nosso planeta está em jogo, mas os super-ricos podem continuar a desperdiçar as oportunidades da humanidade com os seus estilos de vida luxuosos e investimentos poluentes”, lamentou Chiara Liguori, conselheira política sênior para a justiça climática da ONG. Liguori, altamente crítica da falta de ação climática, salienta que “os líderes que não agem são os culpados por uma crise que ameaça a vida de milhares de milhões de pessoas”.
Para ajudar a aliviar esta situação, a especialista defende – em linha com múltiplas organizações do movimento climático – o aumento dos impostos sobre bens de luxo poluentes, como jatos privados ou super iates. Estes fundos, observa, poderiam ajudar a angariar os fundos necessários para enfrentar a crise climática de uma forma que se concentrasse nos mais responsáveis ??e naqueles que mais podem pagar. “Os governos devem parar de favorecer os poluidores mais ricos e, em vez disso, fazê-los pagar a sua parte justa pela destruição que estão a causar no nosso planeta”, acrescenta.
Para a ONG, impostos justos sobre jatos privados e super iates no Reino Unido poderiam ter arrecadado até 2 bilhões de libras até 2023 para ajudar a gerar fundos vitais para a ação climática.
Estima-se que entre 2015 e 2030 os 77 milhões de pessoas com maior riqueza material reduzirão as suas emissões em cerca de 5% anualmente, algo muito longe dos 97% necessários para cumprir a meta do Acordo de Paris de não ultrapassar 1,5ºC de aquecimento global.
Tal como relata a Oxfam, 50 dos maiores multimilionários produzem, em média, mais carbono através dos seus investimentos, aviões privados e super iates em menos de três horas do que o britânico médio produz ao longo da vida.
publicação original:
https://www.ihu.unisinos.br/647875-oxfam-denuncia-que-1-mais-rico-ja-queimou-a-sua-cota-anual-de-carbono
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