A desvalorização do real e seus efeitos
7 de janeiro de 2025
imagem: ABED
A cotação do real frente ao dólar alcançou níveis preocupantes nos últimos meses, ultrapassando R$ 6,00 e atingindo picos de R$ 6,50. Essa situação gera impactos econômicos distintos, por um lado beneficiando exportadores que recebem mais reais por suas vendas externas, mas, por outro lado, penalizando importadores que enfrentam aumento nos preços e custos de aquisição de produtos estrangeiros, e pressionando os preços internos.
Essa dinâmica reflete a elevada dependência da economia brasileira do mercado externo, característica de um modelo econômico baseado na exportação de commodities e na sensibilidade às oscilações do mercado financeiro internacional, e da abertura da conta de capitais. A desvalorização cambial do real eleva a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, mas encarece as importações, ampliando custos internos e pressionando, basicamente, a inflação.
O Banco Central - BACEN é o órgão brasileiro responsável pela política cambial e pela regulação do mercado de câmbio interno. Sob a atual gestão, a atuação do BACEN tem sido marcada por baixa intervenção, mesmo diante de um cenário de escalada do dólar. Exemplo neste sentido é que entre os dias 12 e 20 de dezembro de 2024, houve intervenções isoladas do BACEN, com a injeção de US$ 23,7 bilhões no mercado cambial, mas o comportamento geral tem sido de permitir flutuações livres. Mais recentemente, no dia 19 de dezembro, o BACEN fez nova intervenção injetando US$ 8 bilhões no mercado, a maior atuação em um único dia desde 1999, quando o Brasil adotou o regime de câmbio flutuante, Esta baixa frequência de intervenções do BACEN, especialmente quando comparada a atuação no governo anterior, expõe a moeda nacional a movimentos especulativos e às forças de oferta e demanda, agravando a volatilidade cambial e pressionando consideravelmente a elevação dos preços dos produtos importados e a inflação brasileira.
A atuação do BACEN para conter a atual inflação de oferta, tem se constituído basicamente em aumentar a taxa SELIC, cujos principais efeitos iniciais afetam a demanda interna e não o aumento dos preços de produtos importados. Esta complicada política adotada pelo BACEN pode acarretar impactos negativos sobre a favorável dinâmica atual do mercado de trabalho brasileiro e seus efeitos sobre o crescimento da economia brasileira. Ressalte-se que esta dinâmica vivenciada tem ocorrido sem afetar o aumento dos níveis de preços internos.
A desvalorização do real também é influenciada por fatores externos, como a elevada exposição do Brasil a fluxos de capitais estrangeiros. Enquanto os investimentos diretos contribuem para o desenvolvimento econômico, os capitais especulativos, que representam uma parcela significativa dos fluxos, ampliam a volatilidade. Ressalte-se ainda que grande parcela desses investimentos diretos, destina-se a compra de ativos de setores produtivos que se tornam mais atrativos, não implicando, necessariamente, no aumento da capacidade produtiva do País, e com reflexos futuros no balanço de pagamentos, por remessa de lucros e dividendos. Fundos especulativos manipulam ativos e superestimam o valor do dólar, obtendo lucros extraordinários, especialmente em períodos de alta demanda pela moeda estrangeira. Essa prática é facilitada pela concentração de renda e riqueza no país, que dificulta a diversificação e estabilidade do mercado financeiro.
Adicionalmente, o comportamento de alguns setores da economia interna também exerce influência sobre o câmbio. Grandes exportadores, especialmente do agronegócio, podem atuar como agentes especuladores ao reter reservas cambiais e gerar movimentos que reforçam a desvalorização do real. Essa prática, aliada a subsídios públicos concedidos a esses setores, amplifica desigualdades estruturais e transfere custos para os consumidores, que arcam com a alta dos preços de produtos importados e com os impactos inflacionários.
A conjuntura cambial atual reflete tanto as limitações da política econômica interna quanto as vulnerabilidades estruturais da economia brasileira. A ausência de reformas estruturais, como o aumento da infraestrutura através da ampliação de estradas, armazéns, disponibilidade de energia elétrica, etc., contribui para perpetuar desigualdades e comprometer a capacidade de resposta do país a crises externas. Ao mesmo tempo, a dependência de commodities e a falta de diversificação econômica aumentam a exposição do Brasil a choques externos.
Para enfrentar esses desafios, recomenda-se maior atuação do BACEN no mercado cambial para conter movimentos especulativos e estabilizar o real. É fundamental implementar reformas estruturais que reduzam a dependência de commodities e promovam a diversificação econômica, além de fortalecer a regulação sobre fluxos de capitais especulativos. A adoção de políticas redistributivas, que enfrentem a concentração de renda e riqueza, é essencial para reduzir desigualdades e ampliar a resiliência da economia brasileira a flutuações cambiais.
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