Apesar da torcida contra, 2024 foi um ano melhor que 2023. E como será 2025?
6 de janeiro de 2025
imagem: ABED
No final de 2023, dizíamos que “a despeito das previsões catastróficas do início de 2023, ao longo do ano as variáveis macroeconômicas brasileiras tiveram um comportamento melhor que o esperado”. Nossa afirmação teve por base inicial o desempenho do PIB que, ao final do terceiro trimestre, acumulava alta de 3,2%, tendo fechado o ano de 2023 em 2,9% em relação a 2022, ante as previsões de 0,6%, no cenário mais otimista, por parte dos analistas do mercado financeiro no começo do ano. Apesar de não ser tão expressivo, o crescimento do PIB em 2023 escancarou que as “previsões” do mercado financeiro e segmentos políticos de oposição ao atual governo tinham conotação muito mais ideológica e política do que econômica. O mesmo ocorreu com a inflação, cujas previsões iniciais anunciavam um estouro, mostrando o descontrole do governo sobre as contas públicas, ficou em 4,62%, abaixo do teto da meta.
Não obstante esse desempenho favorável, a Taxa Selic manteve-se em patamar elevado, ainda que tenha sido reduzida ao longo de 2024, passando de 11,15% (janeiro/2024), para até 10,40%, voltando a subir para os atuais 12,25% (dezembro/2024). A justificativa para esse aumento na taxa, festejada pelos setores rentistas, é que a economia está muito aquecida e, portanto, pressiona um aumento da inflação, sendo que a mesma economia que no início de 2024 era apontada como mais um “voo de galinha”. Não era.
O PIB de 2024 deverá superar 3,0%. A inflação, ainda que levemente superior à de 2023 não está fora de controle, devendo situar-se entre 4,75% e 5,00%, o que furaria levemente o teto da meta estabelecido em 4,5%. As outras “más” notícias para os que apostam no “quanto pior melhor” é que no último trimestre de 2024 a taxa de desemprego é a menor da série histórica do IBGE (6,1%); o nível de pobreza reduziu em mais de 30% desde 2023 e o salário médio dos trabalhadores com carteira de trabalho assinada aumentou modestamente. Esse maior poder de compra fez com que em 2024 se verificasse um aumento nas importações de máquinas e equipamentos, o que indica que a indústria, estagnada e com participação cada vez menor na composição do produto nacional, voltou a crescer e investir em mais produção, prioritariamente para o mercado interno, mas também para países que tradicionalmente fazem parte de seu portfólio de vendas.
O crescimento do PIB, todavia, ainda vem sendo puxado pelo Consumo das Famílias, enquanto a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) que, em 2023 teve uma trajetória inversa, o que era preocupante, retomou uma curva ascendente ao longo de 2024. De forma ampla, diante desta realidade, pode-se dizer que os determinantes do crescimento do PIB do brasileiro, em grande medida, se vinculam a políticas públicas adotadas pelo governo federal como o Bolsa Família, o Auxilio Alimentação, o aumento real do salário mínimo, Desenrola Brasil, quitação dos débitos do Minha Casa Minha Vida e inúmeras linhas de financiamento basicamente ao segmento industrial através do BNDES.
Paralelamente, em 2024, esperava-se um avanço novo PAC anunciado pelo governo em setembro de 2023, definindo de forma consistente quais os investimentos públicos pretendidos, as suas fontes de custeio e as iniciativas para estimular a participação do setor privado nesse programa. Tal avanço não ocorreu deixando à margem a estrutura básica para um avanço consistente da economia brasileira no médio e longo prazo, continuando a sua dependência dos humores privados, que em geral se associam as sinalizações positivas sobre os gastos e os financiamentos públicos.
Mas a batalha pelo crescimento econômico sustentável foi, continua e continuará sendo árdua, e nem se está falando em desenvolvimento econômico, que inclui outras variáveis de análise, como aumento do IDH, redução da pobreza, eliminação da insegurança alimentar, distribuição de água potável e saneamento básico para toda a população urbana, dentre outras.
O anúncio do novo ajuste fiscal, cujos impactos serão perceptíveis, em sua maior parte, apenas em 2026, deflagraram um ataque especulativo ao real, com a cotação do dólar passando de R$ 5,4529 (em julho/24) para R$ 6,0707 (em dezembro/24), o que representou um crescimento de 11,33%. Mesmo diante dessa escandalosa ação especulativa, o Banco Central, que nos 4 anos do governo anterior fez mais de 300 intervenções, justamente para frear esses ataques especulativos, no atual governo não chegou a 10 intervenções, como se desconhecesse que o aumento da cotação do dólar impacta nos preços importados e, por decorrência, na inflação. Aqui fica a pergunta que não quer calar: não seria mesmo essa a intenção?
Com o dólar valorizado, era esperado e ocorreu, uma queda no índice Bovespa, que em 31 de dezembro de 2023 ostentava 134.185 pontos e, na primeira semana de dezembro de 2024, atinge 125.668 pontos, representando uma queda de 6,35%.
Em 2024, esperava-se um avanço novo PAC anunciado pelo governo em setembro de 2023 adquire relevância. Contudo, é preciso definir melhor quais os investimentos públicos que serão realizados e as fontes de custeio desses investimentos, ações sine qua non para estimular a participação do setor privado nesse programa. Tal qual desenhado neste momento, e com os limites ao investimento público, o PAC fica extremamente dependente dos humores privados que, como sabemos, em geral dependem de sinalizações positivas do ponto de vista do gasto e do financiamento públicos.
Ressalte-se que este desempenho da economia brasileira em 2024 ocorreu em um cenário global recheado de turbulências, a exemplo das guerras entre Rússia e Ucrânia e Israel e Hamas além de conflitos internos como na Síria, Venezuela e Argentina, com reduzidos efeitos diretos e indiretos no mercado interno.
Diante deste retrato de favoráveis indicadores econômicos e sociais brasileiros observados em 2024, o que esperar para 2025?
As estimativas oficiais brasileiras do crescimento do PIB e da inflação para 2025, segundo o Boletim FOCUS divulgada semanalmente pelo Bacen, vinculada ao mercado financeiro, seguem a mesma pessimista sistemática utilizada em anos anteriores, de projetar inicialmente baixo crescimento do PIB e elevada inflação que vão sendo reajustadas ao longo dos meses diante da realidade vivenciada. Para 2025 o crescimento do PIB é estimado em 1,92% e a inflação, devido a entrada em vigor do sistema de meta contínua não há mais necessidade de definir uma meta a cada ano. O colegiado do CMN fixou o centro da meta contínua em 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
As perspectivas de manutenção e aprimoramento das políticas públicas adotadas pelo governo federal e do desempenho favorável do mercado de trabalho brasileiro, especialmente no último semestre de 2024, pode-se esperar uma continuidade deste processo de crescimento para o ano de 2025, com a manutenção dos seus efeitos multiplicadores sobre o mercado e seus impactos sobre um crescimento mais significativo do seu PIB, acima dos previstos pelo BACEN. Assim é de se esperar a continuidade do crescimento do PIB vinculado ao consumo das famílias e a elevação da formação bruta de capital.
No início de 2024 assume a nova diretoria do BACEN que é o grande responsável pela definição de importantes políticas macroeconômicas brasileiras, como a Taxa SELIC e a taxa cambial, as quais nos últimos tem se constituído em um grande empecilho para um avanço mais consistente desenvolvimento econômico brasileiro. Em que pese a nova diretoria do BACEN ter sido indicada pelo atual governo, ainda pairam incertezas sobre o rumo a ser tomado sobre a queda da Taxa SELIC e o controle da Taxa Cambial.
A realidade vivenciada em 2024 com a tendência de crescimento do PIB e do mercado de brasileiro e seus efeitos sobre uma pequena melhora das condições de sobrevivência da população brasileira, em que pese as inúmeras dificuldades a serem enfrentadas, em 2025 pode-se esperar uma continuidade deste processo de avanço, mesmo com parte da torcida torcendo contra.
Grupo de Análise dos Impactos da Crise
Associação Brasileira de Economistas pela Democracia – ABED
Equipe Técnica: Ademir Figueiredo, Adhemar Mineiro (Coordenação), Antônio Rosevaldo Ferreira da Silva, Eron José Maranho, Jaderson Goulart Junior, José Moraes Neto e Juarez Varallo Pont.
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