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A volta por cima de Trump para o bem ou para o mal

8 de novembro de 2024

imagem: Deutsche Welle via Terra

texto: Maria Luiza Falcão Silva

 

O Brasil terá que decidir de que lado vai ficar. Ao lado dos que lutam por um planeta mais limpo, multipolar e mais justo ou extrema direita?

Passado o impacto inicial da vitória avassaladora de Donald Trump `a presidência dos Estados Unidos da América do Norte (EUA), economia mais poderosa do mundo, com vitórias também significativas no Congresso, Câmara e Senado e o apoio de um poder judiciário com Suprema Corte ultraconservadora, o que esperar?

 

Essa é a pergunta que todos tentam responder ao redor do mundo, de olho nas suas próprias economias e na economia mundial, com uma geopolítica cada vez mais complexa a partir do início do século XXI, agravada pelos conflitos bélicos recentes entre Rússia e Ucrânia/Otan, Israel e Palestina no Oriente Médio, ambos com forte participação dos EUA, e a guerra comercial entre EUA e China.

Três pontos chamam atenção. Em primeiro lugar, a economia que mais conta é a “do bolso” de cada cidadão e não da sociedade como um todo. A economia americana está com um bom desempenho em termos de indicadores econômicos, mas o aumento dos preços que se consolidou no governo de Biden, num patamar mais alto, fez um estrago subestimado e o povo mostrou sua insatisfação nas urnas. Em segundo, o descaso de parte majoritária da sociedade americana com a defesa da democracia. O ataque ao Capitólio dos Estados Unidos, instigada por Trump, em 6 de janeiro de 2021, em desrespeito ao resultado das eleições de 2020, foi perdoado ou esquecido. E em terceiro, o esgotamento, no âmbito da maioria da população americana que foi votar, na eleição de novembro de 2024, da pauta do “stay woke” dos últimos 10 anos, rejeitada pelo governo de Trump e pelos grupos de conservadores e de extrema direita, no mundo, e bastante reforçada pela concorrente, Kamala Harris, ao longo de sua campanha.

 

 A “pauta “stay woke” refere-se a movimentos de reafirmação identitária que levaram milhares de americanos às ruas com repercussões no mundo inteiro, após o assassinato do jovem negro Michael Brown, pela polícia, em 2014 que desencadeou os protestos de Ferguson, Missouri. Hoje todos associam a expressão “stay woke” a movimentos que refletem consciência social em relação a questões como racismo, sexismo, homofobismo, misoginia dentre outras causas e lutas de grupos  sociais identitários e defensores da consolidação dos direitos humanos e de cidadania. A eleição de Trump trilha o caminho inverso da defesa dessas pautas.

Os jornais mundo afora, noticiaram a vitória com preocupação e medo como foi o Editorial do NYT, do The Guardian e outros tantos   com expressões como : “os norte-americanos colocaram a Nação em um rumo precário” (NYT), um momento sombrio para a América e o para o Mundo” (The Guardian).

É verdade que nenhuma economia no mundo ficará imune às políticas que Trump promete executar, mas, a dimensão desses impactos ainda é muito cedo para dimensionar embora se possa conjecturar.

 

Os economistas tendem a concordar que a recente onda de valorização da moeda americana, a moeda hegemônica e de reserva por excelência, deverá se acentuar. Ora, o dólar se valorizando leva a desvalorizações das moedas domésticas que se internalizam via preços de produtos importados mais elevados e custos de produção mais altos, especialmente se os produtos importados forem matérias primas, máquinas e equipamentos como o são em muitos países emergentes. Isso atingirá a maioria dos países que usam o dólar em suas transações comerciais e financeiras. No caso dos países que insistem em aumentar juros para combater inflação em países que sequer estão perto do pleno emprego, podemos esperar um ciclo de altas de juros, de queda de investimentos, de baixo crescimento afetando empregos e renda real de trabalhadores.

Moedas domésticas desvalorizadas em relação ao dólar aumentam as receitas dos exportadores que se sentem estimulados a vender para fora trazendo dólares que, no caso do Brasil, favorece venda de soja, petróleo bruto, ferro e demais produtos da pauta de exportação. Verdade que trazem dólares que terminam por aliviar a tendência altista do câmbio. Mais uma vez conjecturas.

Algumas promessas específicas de Trump, inadmissíveis para pessoas com o mínimo de razão, são: O MAGA ( da sigla em inglês), Faça a América grande de novo, copiada por Trump de  Ronald Reagan em 1980,  desde sua campanha de oito anos atrás,  implica em fechar fronteiras para pessoas e produtos, deportar imigrantes ilegais, combater moedas que pretendam substituir o dólar nas transações internacionais, proteger as indústrias americanas com tarifas sobre importação. No caso de produtos chineses o presidente eleito é taxativo: os produtos chineses importados pelos Estados Unidos serão tarifados em 60%. Sofre os produtos de outros países as tarifas de importação previstas são em torno de 10 a 20%.

É óbvio que os chineses buscarão novos mercados, o Brasil sendo forte candidato a ser abarrotado por essas mercadorias. Mesmo com o dólar mais alto manufaturas podem chegar ao Brasil a preços accessíveis, concorrendo com mercadorias produzidas internamente e comprometendo o processo de reindustrialização em construção.

As tarifas são combatidas porque provocam desvios de comércio que restringem ou distorcem o comércio internacional. Não fazem parte do receituário dos economistas liberais e neoliberais. É uma interferência do estado na economia. Menos ou mais estado devíamos esperar de um governo Trump? Achava que era menos! Vai na contramão do que defende a Organização Mundial do Comércio que tem como um dos seus principais objetivos negociar a redução ou eliminação de tarifas de importação e outras práticas protecionistas. 

A guerra comercial dos Estados Unidos com a China persistirá e deve se agravar e, nesse novo cenário, China e Rússia  buscarão certamente fortalecer suas alianças com o grupo BRICS+.  A questão da substituição do dólar em transações entre esses países que está em pauta no agrupamento deve enfurecer o futuro comandante do “império”. Haverá sanções. Substituir uma moeda internacional não é fácil. A própria China possui três trilhões de reservas internacionais em dólares americanos. Se Biden sequestrou as reservas russas o que aconteceria se Trump resolvesse sequestrar as reservas chinesas?

A China vai continuar a avançar mas em ritmo mais lento do que antes, afinal nada mais natural uma vez que tirou o atraso em relação às economias ocidentais se colocando hoje como a segunda maior economia do mundo. Seus investimentos continuarão crescendo por todos os continentes sendo a Rota da Seda um exemplo concreto. Não é somente o comércio de mercadorias e serviços, os investimentos chineses continuarão a se expandir  fora dos Estados Unidos. Isso pode favorecer o Brasil.

Assim, contra tudo e todos, menos os Estados Unidos, o planeta que se ferre. Trump continuará a negar o agravamento da questão do clima e incentivará o uso e comércio de combustíveis fósseis do qual são os maiores fornecedores para o mundo.

O Brasil terá que decidir de que lado vai se posicionar. Ao lado dos que lutam por um planeta mais limpo, multipolar e mais justo ou da extrema direita?  Ou vamos repetir a histórica e vergonhosa frase de subserviência do meu conterrâneo, Juracy Magalhães, embaixador do Brasil nos Estados Unidos no governo do ditador general Castelo Branco: “O que é bom para os Estados  Unidos é bom para o Brasil” ?

publicação original :

https://jornalggn.com.br/eua-canada/trump-para-o-bem-ou-para-o-mal-por-maria-luiza-falcao-silva/

 

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