A crise no Oriente Médio e algumas reflexões
4 de outubro de 2024
imagem: Mihai Cauli
texto: Adhemar S. Mineiro
A crise no Oriente Médio completa um ano agora em novembro. Com a invasão da Faixa de Gaza pelo Exército de Israel, após um ataque inédito e massivo do Hamas (que controla a região de Gaza) em território israelense, se iniciou um massacre da população palestina naquela estreita região.
Desde o início do conflito, que apesar de não ser uma surpresa, foi marcante dessa vez a violência excepcional da ação israelense, transformando boa parte de Gaza em terra arrasada, com dezenas de milhares de mortos. O ponto principal levantado pelos analistas era sobre a possibilidade de extensão do conflito. E, de fato, logo no primeiro mês de guerra, dois grupos de imediato se solidarizaram com os palestinos através de atos contra Israel.
O primeiro grupo a agir rapidamente foi o Hezbollah, a partir do Líbano, que é um misto de milícia armada, organização de auxílio e partido político no Líbano. Tem base forte na população xiita do país. É especialmente forte em áreas do Sul do Líbano, próximas à fronteira israelense, e na área sul da cidade de Beirute, a capital do país.
Já no começo da ação israelense em Gaza, milicianos do Hezbollah, no sul do Líbano, dispararam foguetes contra o território e áreas urbanas de Israel no norte do país, perto da fronteira, o que foi revidado pelo exército israelense. O segundo a se mover contra o ataque israelense a Gaza foram os chamados hutis. O grupo é organizado no movimento político-religioso Ansar Allah, que também se configura uma milícia armada, controlando boa parte do território do Iêmen – pequeno país ao sudoeste da Arábia Saudita. Os hutis também dispararam foguetes em direção à Israel, dessa vez na direção do sul do país. Vale lembrar que tanto o Hezbollah quanto a milícia huti são majoritariamente xiitas, e têm relações estratégicas com o Irã.
Por isso, sempre ficou a dúvida de se, e quando, haveria alguma manifestação por parte do Irã. Após seis meses do conflito em Gaza, em abril deste ano, cinco altos chefes militares da Guarda Revolucionária – elite das forças militares iranianas – foram mortos por um ataque da aviação israelense à embaixada iraniana em Damasco, na Síria. Cerca de quatro meses depois, um dos líderes políticos do Hamas, Ismail Haniyeh, que vivia em Teerã, no Irã, foi assassinado. O Irã acusou Israel pela morte de Haniyeh. No primeiro caso, houve reação controlada do Irã, com ataque de alguns poucos mísseis contra Israel, mostrando que o território israelense poderia ser atingido a partir do Irã. O ataque que ocorreu essa semana, com cerca de duas centenas de mísseis iranianos sendo lançados contra o território israelense, foi uma reação à ação de Israel em Teerã.
A preocupação com a ampliação do conflito dizia não apenas respeito a uma possível escalada do confronto militar, em que alguma hora os países poderiam recorrer às suas redes de aliados, acabando por levar as potências militares a entrarem na guerra. Dizia também respeito aos efeitos da guerra sobre a economia mundial – se tratando de Oriente Médio, leia-se petróleo, cujos preços corcovearam desde o começo do conflito. Ao sabor da temperatura das tensões, os preços são forçados para cima, e conforme as avaliações sobre o desempenho da economia mundial, os preços são jogados para baixo.
A ação da milícia huti, por exemplo, lançando mísseis contra navios que cruzavam o Mar Vermelho em direção ao Canal de Suez e ao Mediterrâneo, provocou aumento dos preços de seguros do transporte marítimo de carga naquela região, atingindo, como consequência, os custos do transporte de petróleo. Mas nada poderia ser comparado a uma entrada do Irã no conflito, por ser um dos grandes produtores de petróleo do mundo, produzindo cerca de 3% do petróleo mundial, próximo ao Brasil (3,7 milhões de barris/dia). Além disso, controla o Estreito de Ormuz, por onde passa o petróleo de Iraque, Emirados Árabes Unidos e Kuwait, todos entre os dez maiores produtores do mundo. A entrada do Irã na guerra poderia colocar em xeque cerca de 15% da produção mundial de petróleo que passa por ali.
Isso evidentemente afetaria o mercado mundial de petróleo, já afetado pelas discussões da transição energética. Dessa forma, o conflito coloca o futuro do petróleo em jogo.
publicação original:
https://terapiapolitica.com.br/a-crise-no-oriente-medio-e-algumas-reflexoes/
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