Banco do BRICS sai do marasmo e fortalece moedas locais sob Dilma Rousseff, diz analista
4 de outubro de 2024
imagem: Bruna Prado / AP Photo
texto: Ana Livia Esteves
Condecoração da presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) do BRICS, Dilma Rousseff, por Xi Jinping aumenta prestígio da instituição e do Brasil, avalia analista. Saiba quais os avanços e desafios do banco e se o Brasil se beneficia de fato do mandato de Dilma.
A presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como Banco do BRICS, Dilma Rousseff, foi condecorada pelo presidente chinês Xi Jinping com a Medalha da Amizade, neste domingo (28). A honraria atesta o bom desempenho da brasileira à frente do banco, confirmado por especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
"Nos últimos 75 anos, houve muitos velhos e bons amigos no mundo que compartilham as mesmas aspirações e permanecem juntos com o povo chinês nos bons e maus momentos; a sra. Dilma Rousseff [...] é uma representante notável entre eles", disse Xi Jinping durante a cerimônia.
O presidente Xi ainda disse que "o povo chinês nunca esquecerá aqueles amigos internacionais que fizeram contribuições extraordinárias para o desenvolvimento da China e a amizade entre o povo chinês e o povo de outros países", reportou o jornal Brasil de Fato.
"A condecoração de Dilma é uma sinalização política de que a China tem interesse no aumento do prestígio do banco, em reforçar a posição dele como alternativa ao FMI [Fundo Monetário Internacional]", disse o professor de finanças e controle gerencial do COPPEAD/UFRJ, Rodrigo Leite, à Sputnik Brasil. "Também é um sinal positivo de Pequim em relação ao atual governo brasileiro. É uma forma de apontar para os seus aliados quais são as suas prioridades."
A liderança de Dilma Rousseff no NBD retirou o banco de certo marasmo institucional, no qual poucos avanços eram realizados, acredita a professora da PUC-Rio e pesquisadora do BRICS Policy Center, Maria Elena Rodriguez.
"Acho que o banco tem melhorado bastante, porque até poucos anos atrás ele estava acanhado, com desempenho aquém do planejado", disse Rodriguez à Sputnik Brasil. "Havia um exercício e número de empréstimos muito pequeno, e o banco crescia pouco."
A entrada de novos membros, como Egito, Emirados Árabes Unidos, Uruguai e Argélia, aliada à expansão nos investimentos e empréstimos do banco, deu nova tração à instituição. Fortalecido, o NBD tem maior capacidade para avançar na agenda voltada para o Sul Global, com ênfase em investimentos verdes.
"Agendas importantes como o pagamento em moedas locais foram colocadas como objetivos estratégicos na administração de Dilma Rousseff, e estão sendo impulsionadas bastante", disse Rodriguez. "Temos propostas para que até 30% do financiamento do banco seja realizado em moedas locais, o que contribui para superar a primazia do dólar."
A atuação de Rousseff também foi bem avaliada pela especialista nos quesitos sustentabilidade, inclusão social e luta contra a desigualdade. O acesso do próprio Brasil aos recursos do banco também foi visivelmente ampliado durante a gestão da ex-presidenta.
"Na minha opinião, o Banco do BRICS tem uma importância ainda preponderantemente política. O capital do banco ainda é insuficiente. E, conforme o banco se expande, esse capital ainda por cima será diluído em várias economias, restringindo a atuação do banco ainda mais", disse Leite. "Por isso, o peso da imagem pode ser maior do que o peso concreto do banco."
O especialista nota que o governo brasileiro está buscando alternativas domésticas para o financiamento do Projeto de Aceleração do Crescimento (PAC), o que atestaria a ainda baixa capacidade financeira do Banco do BRICS.
"O Brasil está rodando no limite do orçamento, com muito pouco espaço para atuar. Esse é um problema que outros países não têm. Estamos recorrendo ao Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) para realizar políticas públicas, como se fosse um instrumento parafiscal", disse Leite. "Nesse contexto, o Banco do BRICS está sendo útil para nós, em casos como o financiamento para o Rio Grande do Sul. E a presidência de Dilma ajudou bastante."
Em abril deste ano, o vice-presidente Geraldo Alckmin e a presidenta do NBD, Dilma Rousseff, acordaram empréstimo de R$ 5,750 bilhões para a reconstrução do estado do Rio Grande do Sul, duramente castigado por chuvas atípicas. Os recursos foram não só alocados diretamente para o estado gaúcho, mas também para instituições brasileiras como o BNDES, o Banco do Brasil e o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), informou a Secretaria de Comunicação Social do governo.
"Agradeço ao NBD, por meio da presidenta Dilma, por todo apoio que vem oferecendo ao povo gaúcho diante desta catástrofe sem precedentes", afirmou o vice-presidente Alckmin na ocasião. "Tenho convicção de que a reconstrução do estado será maior que a destruição."
Na ocasião, Dilma Rousseff notou a flexibilidade do banco ao conceder o empréstimo, em função da dificuldade de prever os critérios de reconstrução necessários ao Rio Grande do Sul. A presidenta relacionou a vocação do banco para atividades sustentáveis à necessidade de atender populações vítimas de catástrofes ambientais.
"O banco está em processo avançado e pronto para se consolidar como uma instituição do Sul para o Sul. Estou otimista quanto à consolidação de um sistema alternativo de pagamentos. É uma agenda muito clara, que vai mostrar nossa autonomia diante do sistema internacional", concluiu Rodriguez.
O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) foi criado em 2014 pelos primeiros cinco membros do BRICS, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com sede em Xangai, na China, o banco possui escritórios regionais em São Paulo, Joanesburgo, Moscou e Guajarat, na Índia.
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